Somos Arte

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

0021. Noções Acerca da Anatomia e Proporções do Corpo Humano

NOÇÕES ACERCA DA ANATOMIA E PROPORÇÕES DO CORPO HUMANO

Ao entrar no estudo da anatomia artística, devemos dizer que o tema será apenas artístico, devemos dizer que o tema será apenas superficialmente tratado, porque para aprofundá-lo precisaríamos de um espaço enorme, que, como já ficou dito, aqui nos falta. Não obstante, abordaremos a matéria por entendermos que o seu estudo, mesmo ligeiro, é imprescindível á realização de desenhos com um sentido plástico superior. Apreciamos, para começar, as figuras 30 e 31.





Nelas podemos notar uma identidade construtiva com os modelos de nus apresentados anteriormente. Apresentamos uma vista anterior e outra posterior, com o fim de dar ao leitor uma idéia geral da construção interna do corpo humano. Em certas regiões assinalamos, de propósito, a situação dos ossos, para que as pessoas interessadas nessas disciplinas possam observar com facilidade a posição ocupada pelos mesmos dentro da massa muscular, demonstrando ao mesmo tempo em que são precisamente os ossos que, formando o esqueleto humano, nos dão as proporções entre si.
Para não confundir o leitor procuramos simplificar-lhe a tarefa, poupando-lhe penosas buscas científicas; por isso repetimos o conselho dado em parágrafos anteriores: deve-se usar a medida da cabeça, isto é, sua altura, para que nos sirva de modulo. E o repetiremos tantas vezes quanto nos pareça necessário. Neste caso veremos que a figura anatômica apresentada mede sete cabeças e meia. Existem modelos, do tipo chamado longilíneo, que medem até, de altura, oito vezes a medida da cabeça. A figura que estamos apreciando pode ser classificada como do tipo mesolíneo; além destes dois existe um terceiro tipo humano, de baixa estatura, chamada brevilíneo.
Voltando ao nosso modelo anatômico, vemos que foi construído tomando-se a cabeça como modulo ou unidade de medida. Podemos assim observar que a segunda medida da cabeça chega aos peitorais, a terceira atinge o umbigo, uma quarta chega ao músculo que passa por baixo do trocanter maior do fêmur, uma quinta nos indica o ponto situado acima do joelho. Daqui toma a sexta medida, que vai dar na barriga das pernas, atingindo a sétima um ponto acima dos tornozelos, e completando-se a altura total do corpo com uma medida correspondente a meia cabeça, a qual termina no plano de apoio dos pés.






Link para essa postagem


0018. Desenho de Uma Cabeça com Modelo Vivo

Desenho de uma cabeça com modelo vivo


As Figuras 21, 22 e 23 são expressivas, no que se refere ao aspecto de cada uma das fases do desenho de uma cabeça utilizando um modelo vivo.


Nelas podemos apreciar claramente o processo de sua construção, já estudado ao nos referirmos ao desenho de uma cabeça de gesso e nos cânones.
Como sempre, quando nos dispomos nos dispomos a desenhar uma cabeça de modelo vivo, começamos por traçar as diagonais, a fim de, em primeiro lugar, resolver o problema da apresentação e centralização correta do desenho.
A figura 23 põe-nos diante de um modelo no qual a cabeça predomina ao busto. É obra de um distinto estudante de desenho, e revela a notável sensibilidade de seu autor, assim como o seu incontestável domínio dos meios de expressão.
Ao dito aluno, impressionou-lhe fortemente o espírito a força construtiva da cabeça do modelo, assim como a sua expressão. Por isso prescindiu do desenho o busto, e centralizou o modelo de modo que o centro da oval do rosto coincide com o centro do papel
Para a realização da primeira etapa do desenho da cabeça do modelo vivo, seguiremos exatamente os passos indicados para o desenho da cabeça de gesso: uma vez traçada a oval, passaremos ao desenho do pescoço, estabelecendo-lhe o mais perfeitamente possível as proporções de largura e altura, comparando as medidas com as dadas anteriormente.
Desenhada esta parte, teremos estabelecido as massas mais importantes da obra. Observe-se que, antes de desenhar os detalhes, é necessário traçar as linhas auxiliares que indicamos na figura 21; destarte se colocarão corretamente os olhos, a boca, as orelhas, etc.


Repare-se que na figura 19 determinamos a oval mediante o conhecido procedimento geométrico; mas ao desenhar um rosto traçamos a mão livre, isto é, sem o auxílio de compasso ou qualquer outro instrumento, porque nossos olhos e mão já estão treinados para desenhá-lo com segurança e desenvoltura.
Desenhada a oval, traçamos a linha média e – como já explicamos – dividimo-la em quatro partes, de acordo com as proporções do modelo, a fim de situar convenientemente os olhos, o nariz, a boca, as orelhas, etc.
Chamamos particularmente a atenção do leitor para o fato de que essas linhas são sempre perpendiculares à linha mediana, de sorte que, se a cabeça está direita, elas serão horizontais; por outro lado, se a cabeça está inclinada, como o eixo está igualmente inclinado as linhas dos olhos, da boca, etc., cairão obliquamente.
Completamos, pois, a centralização e o esboço do modelo.
Em seguida cuidaremos de ajustar o mais corrente possível cada um dos detalhes, com p objetivo de não só lhes dar a colocação devida como também atribuir-lhe as suas características próprias.
Estamos em presença de um modelo cujos traços fisionômicos são a bem dizer grosseiros, podendo-se observar facilmente que o nariz é mais largo do que o comum, e achatado do dorso, sendo as orelhas também um pouco grandes, etc.
Tendo acentuado todos os pormenores, acrescentaremos ao desenho o tom mais forte do claro-escuro, como se vê na gravura. Nesta podemos notar que o lado esquerdo do rosto, assim como o mesmo lado do pescoço, está envolvido em intensa sombra (figura 22).

Nesta fase do desenho, no que se refere ao claro-escuro, cuidaremos particularmente de dar o tom de sombra dominante e as principais meias-tintas, reservando-nos para, na terceira etapa, reforçar os detalhes do modelado e assinalar a sombra projetada.
Uma terceira figura (23) nos mostra o desenho já concluído.


Nela podemos ver os traços firmes com que foram desenhados todos os planos que compõem a cabeça.
Como se pode observar, o foco de luz está colocado ao lado direito e por cima do modelo, de maneira que a frente é a massa mais luminosa, por estar mais perto do foco; vemos também que a massa do pescoço, por ser o ponto mais distante do foco de luz, está completamente envolta em tons sombrios e meias-tintas; não se vê no pescoço um só plano de luz intensa, precisamente por causa da distância a que ele se acha da mesma luz.
Por isso existem-rigorosamente ordenados em escalas tonais de claro-escuro – uma série de planos situados entre a fronte e o pescoço, ou seja, entre a maior intensidade de luz e de sombra. Ditos planos estão envoltos em suaves meias-tintas, que estabelecem a ligação, gradual dos dois extremos, modelando, ao mesmo tempo, delicadamente, todos os planos do rosto.
Assim como a meia-tinta suaviza completamente o modelado, colocou o autor do desenho uns traços sobre o fundo, para estabelecer mais completa unidade entre os tons do claro-escuro do modelado e o branco do papel do fundo. Fica o modelo – por assim dizer – sustentado pelo fundo. Resta dizer que o trabalho apreciado foi feito com lápis macio.



Link para essa postagem


0017. Cabeça de Perfil

Cabeça de Perfil



A figura 20 apresenta um modelo visto de perfil.




Convém sempre traçar uma linha reta em frente ao rosto, porque nos servirá de guia para construir o perfil da cabeça, considerando a saliência dos ossos da fronte ou do maxilar inferior, o nariz, etc. Dita linha reta será vertical, quando a cabeça estiver levantada, olhando o infinito; do contrário cairá obliquamente, para frente ou para trás, conforme a posição do modelo. Quando à colocação da orelha no lugar que lhe é próprio, relativamente à altura, podemos observar que sua medida, em geral, é igual ao espaço compreendido entre as sobrancelhas e o nariz. Para colocar ao mesmo tempo a orelha em seu lugar, sem correr o risco de que o seu pavilhão não coincida com o conduto auditivo, convém traçar um quadrado na parte superior da cabeça: com a horizontal da base do nariz se levanta uma vertical até a abóbada do crânio, sobre a qual traçamos a horizontal que une as duas verticais paralelas, completando assim o quadrado. Em seguida localizaremos a orelha tal como se vê na gravura.
No modelo Vico, observaremos bem se os órgãos dos sentidos estão colocados tal como nas referidas figuras ou, se não o estiverem, as diferenças próprias de cada fisionomia. Feita esta observação, agiremos de acordo com a que ela nos houver revelado.
Esta geometrização da cabeça vem a ser de uma grande utilidade, visto que por meio dos espaços divididos podemos proporcionar perfeitamente qualquer modelo, servindo-nos cada um deles para comparações com o resto da obra, bem como para ter uma razoável visão do conjunto.
Repetimos especialmente o que já ficou dito, no tocante ás medidas que servem para ajustar as proporções de um modelo: cada modelo tem as suas medidas próprias, e os procedimentos geométricos que aconselhamos servirão apenas de exemplo para orientar melhor o estudante na tarefa de sua predileção. Em nenhum caso se pretenderá aplicar essas mesmas medidas a todos os modelos: elas são-nos utilíssimas como guias pois, como já dissemos, nos ensinam a raciocinar aguça em nós a observação correta com a qual vamos adquirindo a segurança no desenho, mas usadas como infalíveis nos conduziriam ao malogro, tornando nossos desenhos inexpressivos, destituídos de caráter individual.



Link para essa postagem


0016. Como Desenhar Uma Cabeça do Natural em Diversas Posições

Como desenhar uma cabeça do natural em diversas posições


DAMOS neste capítulo dois exemplos (figuras 19 e 20), com o fim de facilitar a tarefa do estudante no desenho da cabeça humana.
Aconselhamo-lo, uma vez mais, a recorrer sempre à geometria, para construir bem o seu modelo.
Na primeira das figuras temos a cabeça vista de frente: é uma oval.



Observe-se que a dita oval foi dividida em duas partes iguais por meio de um eixo central, que neste caso é vertical, pela posição da cabeça; feito isto, o mesmo eixo, ou linha média, foi subdividido por seu turno em quatro partes, traçando-se três linhas perpendiculares a ele (veja-se a figura). A primeira divisão serve para limitar o espaço correspondente à massa do cabelo; segue-se o segundo espaço, que ajuda a colocar os olhos no lugar devido, e a terceira linha determina a medida do nariz, conseguindo-se destarte a perfeita proporção de uma cabeça.
A linha horizontal que passa pelos olhos se divide em cinco partes iguais. Isto nos permitirá estabelecer a largura da base do nariz, que é igual ao espaço que existe entre ambos os olhos (medido entre os canais lacrimais); esta medida corresponde também à largura da cada um dos olhos.
Sabemos que as variações da natureza são inúmeras: com estas medidas auxiliares não fazemos mais do que ajudar-nos a nós mesmos na tarefa de ajustar as medidas em casa caso, para achar o verdadeiro caráter do modelo, já que umas pessoas têm o nariz maior que o de outras, os olhos m, ais ou menos próximos um do outro, ou mesmo colocados em posições especiais, segundo as particularidades da raça a que pertençam, etc.; para esse ajuste nas medidas, procedemos a comparações constantes entre o modelo vivo e estes cânones.
Outra indicação muito importante nos oferece a mesma figura, deixando-nos ver claramente que a largura do pescoço, com pequenas variantes em cada modelo, é igual ao espaço que existe entre os cantos externos dos olhos. Sendo assim, pode-se dizer que a largura do pescoço – falando de maneira geral – é igual a três vezes a largura de um olho, a não ser o das pessoas de pescoço muito grosso, caso em que se calcula maior número de medidas (referimo-nos sempre à largura do olho). Também a largura da boca pode-se dar como sendo, aproximadamente, igual à largura de um olho e meio, medida aquela entre as comissuras dos lábios; de modo que, se estivermos em presença de uma pessoa de boca grande, aumentaremos a medida na proporção necessária.
Colocação da boca fechada, em sua altura mais da medida tomada entre o nariz e o queixo. A linha que se traçar nesse lugar servirá para separar os lábios.



Link para essa postagem


0015. Estudo de Uma Cabeça em Gêsso de Forma Simplificada

ESTUDO DE UMA CABEÇA EM GESSO DE FORMA SIMPLIFICADA



Apresentamos como modelo uma cabeça em gesso de grandes planos simples. Convém recordar que este exercício preliminar, no estudo do modelo vivo, é sumamente vantajoso para o estudante, pois lhe permite compreender melhor a forma geral que compõem, uma cabeça e descobrir sua arquitetura própria, antes de enfrentar os problemas do modelo vivo, problemas um tanto mais difíceis de resolver para quem se iniciam na arte de desenhar. Acresce que, quando os problemas da construção de uma cabeça houverem sido compreendidos e resolvidos no modelo de gesso, essas dificuldades irão sendo superadas metodicamente, e em pouco estará o estudante apto a desenhar o modelo vivo com maior segurança. Conhecido o sistema de desenhar uma cabeça recorrendo á geometria, aplicaremos este mesmos conhecimentos a toda as outras cabeças, não só as de gesso como as de modelos vivos, ás quais chegaremos após ter desenhado vários modelos diferentes de gesso, a fim de compreendermos inteiramente suas invariáveis leis de construção.
Na figura 16 temos a primeira etapa do desenho.

Em primeiro lugar foram traçadas as duas diagonais numa folha inteira de papel canson, usando-se para isso um carvão afilado em bisel (recorde-se o que foi dito antes, acerca do papel de lixa colado a uma tabuinha, etc.); com este mesmo instrumento se executará todo o desenho até a sua conclusão, pois o carvão oferece a vantagem de permitir apagar facilmente qualquer erro com os esfuminhos, tal como ensinamos anteriormente, ao nos referirmos aos materiais utilizados para desenhar.
Uma vez traçadas as duas diagonais, para centralizar o modelo e dar-lhe uma boa apresentação na superfície total do papel, passaremos a desenhar primeiramente a cabeça. Traçaremos, para isso, uma oval, visto que toda as cabeças podem, a bem dizer inscritas dentro das formas de um ovo.
Quando se vão desenhar apenas a cabeça e o pescoço, coloca-se a oval no centro do papel, pois o restante constitui meramente pormenores de construção. Por outro lado, quando se deseja reproduzir também um pouco de busto, centraliza-se o modelo calculando-o em seu tamanho de conjunto: neste caso a cabeça ficará sempre na metade superior do papel. Desta centralização dependerá também a boa proporção dos espaços livres que cercam o desenho.
Localizada a forma geométrica dentro da qual se pode inscrever a figura humana vista de frente, passaremos ao desenho do pescoço (e por último, se for o caso, desenharemos o busto) distribuindo destarte, harmonicamente, as massas mais importantes do conjunto, isto é a cabeça, (pescoço e busto), sem nos preocuparmos de maneira alguma com as minúcias (OLHOS, NARIZ, BOCA, ORELHAS OU PREGAS DE UM VERTIDO, ETC.), ATÉ ATINGIR A SEGUNDA FASE, NA QUAL CONSIDERAREMOS A CONVENIÊNCIA DE INCLUIR NOS DESENHOS TODOS OS DETALHES CITADOS.
Dados estes primeiros passos, traçaremos dentro da oval o eixo central que servirá para indicar a posição da cabeça (toda de frente, três quartos, etc.). Em seguida traçaremos nos lugares próprios - três linhas mais, que sendo perpendiculares ao eixo, passam pelos olhos, pelo nariz e pela boca, respectivamente. Estas linhas construtivas permitem estabelecer com propriedades a direção, proporção, etc., dos detalhes de um rosto.
Na figura 17 apresenta o modelo na segunda fase do desenho.

Todos os pormenores foram perfeitamente desenhados, tendo sido esboçadas as obras próprias, bem como a sombra projetada. Já se eliminaram as linhas diagonais, os eixos, as linhas perpendiculares, etc., pois todas elas nada mais são que linhas construtivas, isto é, linha que fazem às vezes dos andaimes de um edifício em construção a obra se aproxima de seu término.
Nesta segunda etapa do trabalho convém deixar concluído o desenho, a fim de que em seguida se possa cuidar exclusivamente do claro-escuro, de maneira que os planos de luz, as meias-tintas e os escuros se combinem harmonicamente dentro do conjunto do modelo. Os planos bastante simplificados dessa cabeça de gesso permitem estudar, em primeiro lugar, o problema do desenho em seu aspecto construtivo, Simplificando também o problema do claro-escuro, em virtude da presença dos grandes planos, nele mão se apresentam os pequeninos detalhes que via de regra, distraem o estudante, afastando-o do caminho que o leva á solução do problema básico da forma. Assim, a pouco e pouco, vai-se adquirindo a segurança necessária para desenhar o modelo vivo sem tropeços de espécie alguma.
Os olhos já aprenderam a ver, a inteligência a raciocinar, e as mãos, mais destras, a executar o desenho cada vez com maior desenvoltura.
Na figura 18 temos o modelo na terceira etapa de sua evolução.


Seu aspecto nos demonstra que está rigorosamente acabado. Observar-se á que luz que o envolve está situada ao lado esquerdo do desenhista. Sobre este ponto diremos que é de suma utilidade variar o foco de luz conforme o modelo, de modo que umas vezes seja iluminada da esquerda para a direita, outra na sentida inversa. Em alguns casos convém igualmente que o foco de luz parta de baixo para cima, ou vice-versa, a fim de variar a apresentação do desenho, submetendo ao estudante, ao mesmo tempo, novos problemas plásticos. Destarte ele adquiriu a aptidão para procurar a posição mais conveniente da luz, que lhe permita destacar nitidamente os relevos do modelado, em vez de prejudicá-lo com uma iluminação imprópria. Esse problema da posição da luz leva-nos a salientar a conveniência do uso de um foco de luz artificial, como meio de evitar que o estudante tropece nos obstáculos de uma luz débil, sobre o modelo. Assim também lhe será possível fugir á constante modificação dos tons do claro-escuro, quase imprescindível quando o modelo é iluminado pela luz natural que penetra por uma janela ou porta. Esta luz natural varia constantemente, em virtude da sua própria natureza: em certos dias de sol, é brilhante, mas já o não é nos dias nublados, chuvosos, assim como não permanece igual no decurso de um mesmo dia.
O que aqui dissemos, com respeito á correta iluminação do modelo, explica o fato de na maioria das escolas de belas-artes e estabelecimentos congêneres, nos quais se procura proporcionar aos estudantes todas as comodidades, os modelos serem sempre iluminados com luz artificial, sobretudo os modelos de gesso, como o único meio de evitar a perda de tempo que acarretam os numerosos dias de mau tempo no ano escolar.
A experiência aconselha a desenhar também modelos iluminados com luz natural, alternando com outros iluminados com luz artificial, a fim de habituar a vista a perceber os tons delicados do claro-escuro. A luz natural oferece tons mais suaves e transparentes, e o fato de não se notar bem o limite entre os tons de luz e sombra oferece maiores dificuldades de realização.
Para iluminar o modelo com luz artificial convém que o desenhista lance mão de um foco de luz móvel. Caso não disponha de um braço articulado nem de uma lâmpada de pé, poderá improvisar um foco de luz com um cone de papelão, ou de folha-de-flandres, que é ainda melhor, adaptado a uma lâmpada comum. A parte interna do cone pode ser pintada de branco, para aumentar a intensidade da luz sobre o modelo. Deste modo se evita também que a luz se torne incômoda para o observador.
Animados sempre do propósito de misturar ao estudante os conhecimentos mais completos, e ao mesmo tempo fáceis de compreender, aconselha-lo-emos a variar a técnica dos trabalhos, valendo-se para isso dos diversos materiais de desenho. Assim dominará, aos poucos, todos os meios de expressão plástica. Mas para isso convém efetuar vários desenhos inteiramente a carvão, alternando-os com outros inteiramente a lápis, de preferência um lápis bem macio, a fim de que a linha seja sensível, e o claro-escuro apresente certa frescura, nos tons suaves como nos fortes procurando sempre não lacerar nem sujar o papel. Isto requer, da parte do executante, um maior cuidado de observação. Deste o começo de um desenho a lápis, sua preocupação será constantemente a mesma, isto é: traçar sempre linhas suaves, visto que o tom mais escuro se pode obter em seguida cruzando as linhas: finalmente, bastará reforçar alguns tons, para indicar os acentos gerais, e assim teremos um desenho de aspecto espontâneo pela frescura delicadeza de sua realização. Deve-se usar uma borracha macia para não empastar o lápis nem danificar a superfície do papel. Recordemos, para concluir, que os planos de luz devem ser limitados com linhas muito tênuas, no começo de um desenho, para que não seja preciso depois apagá-los, danificando o papel, máxime se o modelo for de gesso, muito embora ditos planos já se combinam com o branco do papel. Como já tivemos a ocasião de dizer, usar-se-á Ingles branco, se o desenho for a lápis usar o papel canson, e o papel Ingles para o carvão.


Link para essa postagem


0014. As Linhas Sensíveis

AS LINHAS SENSÍVEIS


Ao começar a aplicação do desenho das ânforas, dissemos que era conveniente não sombreá-las, mas simplesmente, desenhar-lhes os contornos e detalhes de construção, para não enfraquecer as características de suas linhas.
Sabemos também que, deste modo, com freqüência se fazem retratos, muitos dos quais nem por isso deixam de possuir notável qualidade artística. Entre os artistas de épocas passadas podem citar Ingres, que realizou grande parte de sua obra - talvez a mais importante com essa técnica de desenho. Em nossos dias, grandes artistas praticam também esse método.
Sem embargo, notamos que a essas obras não falta expressão. O segredo está na sensibilidade da linha. Vale dizer: quando fazemos um croqui ou bosquejo, traçamo-lo com linhas do mesmo caráter. Ao aperfeiçoar o desenho, as linhas serão mais seguras, melhores traçadas e ajustadas ao modelo, mas serão sempre iguais entre si, em grossura. Se observarmos, no entanto, alguns desses bons trabalhos a que nos referimos, vermos que a linha é variável conforme sejam a luz, a sombra, as meias-tintas, etc., ou mesmo a qualidade ou natureza do objeto que representam. Assim, por exemplo, no retrato de uma pessoa vestida, os traços do rosto não serão do mesmo caráter que os traços que representam as vestes; em se tratando de roupas de homem, estas serão desenhadas - falando de maneira geral - com linhas mais espessas e rígidas, e assim por diante. Os cabelos não serão representados por linhas da mesma força que as usadas para desenhar o rosto, etc. Se o modelo tem uma boca de muita força expressiva, como seja volume, amplitude, etc., não a desenharemos com linhas da mesma espessura e intensidade que as empregadas no traçado de uma boca pequena, de lábios finos, etc. Tudo isto contribuirá para que se obtenham trabalho de qualidade, um retrato expressivo, sem necessidade das sombras, meias-tintas, etc., nem tampouco da cor.
Com toda aprendizagem convém começar com os modelos mais simples, aplicaremos esta técnica interessantíssima em nossos desenhos das ânforas. Aqui a utilizamos tão - somente para indicar os contrastes de luz e sombra.
Todos os modelos apreciados recebem a luz de cima. Assinalemos, então, com uma linha delgada, todos os planos os quais a luz incide em cheio: borda das bocas, parte superior das asas, etc., e com uma linha mais grossa indiquemos a sombra na parte inferior do corpo mesmo dos vasos, assim como o plano em sombras das asas, molduras, etc. Estas espessuras, quando se trata de corpos redondos, em que não se verifica uma busca mudanças de luz e sombra, mas apenas a menos perceptível transição de um destes extremos para o outro, se com a sua grossura variável a idéia da meia-tinta.
Dessa mesma maneira se obtém magníficos trabalhos de ciências naturais, nos quais, sem tirar ao estudo a menor parcela de seu caráter científico, o desenho se apresenta com o atrativo de sua qualidade artística.


Link para essa postagem


trabalhos