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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Exposição no Masp reúne telas, desenhos e esculturas de Modigliani

15/05/2012 - 07h27

Exposição no Masp reúne telas, desenhos e esculturas de Modigliani


SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Durou só três horas a primeira e única mostra individual que Amedeo Modigliani fez em vida. Quando o artista expôs 33 nus femininos numa galeria parisiense em 1917, a polícia interditou a exposição no vernissage, alegando ser um atentado ao pudor.

Diante de suas telas, no entanto, essa acusação espanta. Seus nus, um deles agora peça-chave da grande mostra do artista italiano que começa no Masp nesta quinta, não têm quase nada de lascívia.

Modigliani, que morreu tísico aos 36 anos, em 1920, foi para os críticos um retratista da alma, um artista que mergulhava na psique de seus modelos. Na cultura popular, é o cara que pintava homens e mulheres de pescoços alongados e traços angulosos.
E uma coisa não anula a outra. Sua forma de ver o mundo partiu de uma noção clara da cultura clássica, grega e renascentista. Passou pela influência de vanguardistas --Brancusi, na escultura, e Cézanne, na pintura-- e terminou distorcida por uma visão arraigada em conceitos e números da cabala judaica.

Talvez por esses e outros motivos suas mulheres nuas jamais teriam a volúpia ou o realismo do que fez Gustave Courbet com o sexo escancarado da modelo no clássico "A Origem do Mundo", nem mesmo as segundas intenções da "Olympia", de Manet.

"É uma visão traumática do corpo feminino, sem provocações ou sedução", analisa Christian Parisot, um dos curadores da mostra no Masp. "Aspectos anatômicos não interessam, já que ele propõe uma nova dinâmica do corpo feminino, inaugura uma sensualidade distinta."
Divulgação
"Moça de Olhos Azuis", de Modligliani
"Moça de Olhos Azuis", de Modigliani

RETRATO DE CÉLINE
Em sua "Grande Figura Nua Deitada", que estará no Masp, Modigliani retratou Céline Howard, mulher de um escultor americano em Paris.
"Ela posou três vezes para ele, sempre ao lado do marido cão de guarda", conta o crítico Olívio Guedes.

"Ele fez sua carne de cores quentes, manipulando a temperatura da pele. Mas ao mesmo tempo construiu um olhar que escruta, quase capaz de ver dentro do espectador."
Modigliani fez dos olhos de seus retratados uma espécie de radiografia dos sentimentos. 

Escondeu neles muitas vezes símbolos e números cabalísticos. Também alternava texturas, eliminava a íris de alguns retratados, fazendo olhos chapados, negros, ou até quadriculados, penetrantes e estranhos.

Seus ambientes, sempre fechados e em tons quentes, também reforçam essa ideia de mundo intimista, figuras mergulhadas num universo paralelo que se alongam e se esticam em direção ao céu.

Esses rostos e olhos ovalados e pontiagudos vêm ao mesmo tempo dessa visão religiosa -a ideia cabalista de uma descida da luz divina para o plano terreno-, de obras de artistas vienenses como Klimt e Egon Schiele e das esculturas que observou, desde os exemplares africanos que faziam a cabeça dos cubistas ao reducionismo formal das obras de Brancusi.
Modigliani, aliás, construiu quase toda a sua obra, mesmo as pinturas, usando um raciocínio escultórico, de traços sintéticos e linhas de força bruta. Seus biógrafos dizem que ele só não se tornou um grande escultor pela fraqueza de sua musculatura e sua doença pulmonar.

Divulgação
"Grande Figura Nua Deitada", tela de 1918 que está na mostra do Masp
"Grande Figura Nua Deitada", tela de 1918 que está na mostra do Masp

PRIMITIVOS E CUBISTAS

Usando as pedras importadas para a construção do metrô de Paris e papel de embrulhar pão para fazer seus rascunhos, Modigliani fez algumas esculturas, como as cariátides da mostra no Masp.

"Ele tem um grande interesse pela estatuária grega e, ao mesmo tempo, por obras primitivas", analisa Parisot. "Sua escultura é uma combinação de elementos negroides com preceitos cubistas."

Mas tanto as esculturas quanto as pinturas devem toda a sua força à compulsão febril com que desenhava. Ele chegava a fazer até cem desenhos por dia em folhas que se acumulavam no ateliê e desapareceram com o tempo.

"Essa era sua maneira de traduzir em imagens suas visões imediatas", diz Parisot. "São testemunhos do pensamento por trás das obras."

No fundo, Modigliani misturou cânones clássicos e vanguardistas para construir uma obra única, um estilo que críticos não associam a uma escola ou movimento. "É algo só dele", diz Parisot. "Modigliani não teve mestres nem deixou discípulos."

AMEDEO MODIGLIANI
QUANDO abre amanhã, às 19h30, para convidados; de ter. a dom., das 11h às 18h; qui., das 11h às 20h; até 15/7
ONDE Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644)
QUANTO R$ 15


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AMEDEO MODIGLIANI



EXPOSIÇÃO TRAZ AO MASP ORIGINAIS DE MODIGLIANI, ALÉM DE FOTOS, MANUSCRITOS E CARTAS DO ARTISTA E DE AMIGOS, A PARTIR DE 17/5 NO MASP (imagem: pintura Grand Nu Allonguè, divulgação).
AMEDEO MODIGLIANI
MODIGLIANI - IMAGENS DE UMA VIDA
Período:
17 de maio a 15 de julho de 2012
Uma coleção composta por pinturas, esculturas e desenhos originais – alguns deles nunca antes apresentados na América Latina –, além de diários, fotos e manuscritos de Amedeo Modigliani fazem parte da exposição itinerante Modigliani: imagens de uma vida, que chega agora ao MASP. A obra Madame G. van Muyden, do acervo do museu paulista, também integra a mostra em São Paulo.
O percurso expositivo leva o público a uma imersão na intimidade do artista – começando por seus estudos na Itália, seus professores, aprendizados, todas as fases são ilustradas. Seu apogeu acontece na Paris modernista, em meio a manifestações artísticas, influências e confrontos criativos com os amigos que, juntos, sacudiram os pilares da arte estabelecida e ajudaram a dar novos rumos para a gerações de artistas que se formavam em meio à efervescência cultural do início do século XX.
Autodidata e dono de um estilo inconfundível, Modigliani teve uma vida intensa, marcada por grandes amores e infortúnios. Morto precocemente em 1920, aos 35 anos, conviveu com os principais nomes da cena artística parisiense de sua época. Na mostra, esta intimidade vem à tona no diário de sua mãe, em cartas trocadas com amigos como Pablo Picasso, André Derain, Max Jacob e Léonard Foujita e nas fotos de seu ateliê, de suas modelos e dos lugares onde viveu.
Outro destaque são as 22 obras produzidas pela mulher e amigos de Modigliani, que contribuem para contextualizar o profícuo período vivido pelo artista. São três óleos de sua esposa Jeanne Hébuterne, uma gravura de Picasso, outra de Foujita, pinturas feitas a quatro mãos com Moïse Kisling, além de peças de Marevna, Jacob e outros.
Com curadoria no Brasil de Olívio Guedes, diretor da Casa Modigliani (SP), e internacional do professor Christian Parisot, presidente do Modigliani Institut Archives Légalés Paris-Roma, as obras e peças expostas vêm do acervo deste instituto e de colecionadores particulares, além de telas do acervo do MASP. “Modigliani, que foi definido ‘o artista sem mestres e sem discípulos’, se destaca no panorama de nomes importantíssimos da história da arte por ter sido fiel à sua visão figurativa da arte, conseguindo chegar a um signo identitário, que é síntese perfeita entre a imagem e o sentimento que isso suscita em transferir a alma dos sujeitos, e não apenas as fisionomias deles”, diz o curador.
Após São Paulo, Modigliani: imagens de uma vida segue para o Museu Oscar Niemeyer (MON) em Curitiba.

Serviço Educativo 
Como para as demais exposições temporárias e mostras de obras do acervo realizadas pelo MASP, Modigliani: Imagens de uma vida tem um programa educativo elaborado especialmente para atender aos visitantes, professores e alunos de escolas públicas e privadas. As visitas orientadas são realizadas por uma equipe de profissionais especializados. Informações: 3251 5644, ramal 2112.
Informações Gerais
  • Modigliani: Imagens de uma Vida
    De 17 de maio a 15 de julho, no MASP 


    MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
    Av. Paulista, 1578. Acesso a deficientes. De 3ªs a domingos e feriados, das 11h às 18h. Às 5ªs: das 11h às 20h. A bilheteria fecha meia hora antes. Ingressos: R$ 15,00. Estudantes, professores e aposentados com comprovantes: R$ 7,00. Até 10 anos e acima de 60: entrada franca. Às 3ªs feiras: acesso gratuito a todos.
    Informações ao público: www.masp.art.br Twitter: http://twitter.com/maspmuseu
    Facebook: www.facebook/maspmuseu
    Tel.: (11) 3251.5644


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