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sexta-feira, 9 de abril de 2010

Arte-educação no Brasil - Ana Mae Barbosa


Livro: Arte-educação no Brasil





Arte-educação no Brasil

Autor(es): Ana Mae Barbosa

Editora: Perspectiva

Área(s): Pedagogia / Psicoped.

ISBN: 8527301725

136 pág.

Preço: R$ 25,00

Disponibilidade: 1 dia útil + prazo do frete


Descrição:
O livro de Ana Mae Barbosa, Arte-Educação no Brasil, chega agora a sua 5ª edição, confirmando, já à luz de sua acolhida, a importância da contribuição desse estudo para a reflexão acerca do ensino de arte na escola nova brasileira e das profundas transformações que sua didática vem sofrendo nos últimos anos. Pois o exame nele desenvolvido aborda com notável pertinência as idéias e os propósitos dominantes na educação pela arte no Brasil, no segmento de tempo que formou as bases de apreensão atual da pedagogia artística, em função da qual se pode avaliar a adequação dos métodos utilizados, a natureza dos objetivos propostos, e inferir o caminho a ser seguido no seu aperfeiçoamento e renovação.


Livro: Arte-educação no Brasil



Ana Mae Barbosa: Arte na veia
Por Blog Acesso



Ana Mae Barbosa, a entrevistada dessa edição do Boletim da Democratização Cultural, é professora de pós-graduação em arte-educação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Foi diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e presidente do International Society of Education through Art (InSea). É professora visitante da The Ohio State University, EUA. Publicou, entre outros, os livros: Arte educação no Brasil; Arte educação: conflitos/acertos e Arte-educação no Brasil: das origens ao modernismo.


Qual a situação do ensino das artes nas escolas hoje?



Ana Mae Barbosa - A ditadura deixou marcas no ensino das artes nas escolas. Principalmente no ensino primário, essa disciplina foi dominada pela sugestão de temas e por desenhos alusivos a comemorações cívicas, religiosas e outras festas. Nas escolas sem orientação de um especialista, os professores continuam repetindo aqueles modelos horrorosos em xerox. São coelhinhos da Páscoa, índios que fazem alusão ao Dia do Índio, imagens de péssima qualidade estética. Além disso, no final da década de 90, houve um esforço contínuo do Ministério da Educação para retirar a disciplina da grade curricular, sem sucesso. E as escolas não cumprem o que diz a lei. A lei diz que arte é obrigatória em todo ensino básico. Mas, em muitas escolas, a arte aparece somente em alguns anos, pois os diretores alegam que não está especificado na lei que o ensino é obrigatório para todas as séries.


Como a arte influi na capacidade de aprendizagem? E como deve ser inserida na escola para que a criança entenda, desde cedo, o significado de Arte?



Ana Mae Barbosa - Ainda é preciso mais pesquisas, mas podemos dizer que a arte leva os indivíduos a estabelecer um comportamento mental que os levam a comparar coisas, a passar do estado das idéias para o estado da comunicação, a formular conceitos e a descobrir como se comunicam esses conceitos. Todo esse processo faz com que o aluno seja capaz de ler e analisar o mundo em que vive, e dar respostas mais inventivas. O artista faz isso o tempo todo, seja para melhor se adequar ao mundo, para apontar problemas, propor soluções ou simplesmente para encantar, que é uma das formas de tirar você das mazelas do dia-a-dia. A arte não tem certo ou errado, o que é muito importante para as crianças que são rejeitadas na escola por terem dificuldade de aprender, ou problemas de comportamento. Na arte, eles podem ousar sem medo, explorar, experimentar e revelar novas capacidades. A arte desenvolve a cognição, a capacidade de aprender. Isso já foi demonstrado em uma pesquisa feita nos Estados Unidos em 1977, quando foram estudados os dez melhores alunos em um período de dez anos. Os melhores tinham apenas uma característica em comum: todos tinham feito ao menos dois cursos de arte em suas trajetórias pelas escolas. Além disso, um país só pode ser considerado culturalmente desenvolvido se tiver uma produção de alta qualidade e uma compreensão dessa produção também de alta qualidade. No Brasil, precisamos democratizar a compreensão e isso deve começar nas escolas, na educação infantil.


Como um educador pode inovar para prender a atenção dos alunos quando ensina arte?



Ana Mae Barbosa - Levando-os ao contato direto com a Arte e fazendo-os pensar no que estão vendo. A Pedagogia Questionadora de Paulo Freire é ainda o melhor caminho para levar a pensar e formular significados.


Em um país como o Brasil onde a arte é pouco divulgada, como um cidadão pode desfrutar de seu direito de acesso à cultura?



Ana Mae Barbosa - Não só é pouco divulgada, mas em geral, quando é divulgada se usa a linguagem hermética. A Internet tem democratizado o acesso a museus, exposições e tem dado visibilidade a trabalhos de muitos artistas, mas ainda não confere reconhecimento como artista. Para alguém ser reconhecido como artista é necessário participar de exposições em Museus, Bienais, sair na “Bravo”, etc. Enfim, ser abençoado por algum curador. É com os curadores que está o poder de designar alguém como artista. A maioria deles é homem, vem das classes altas e é submetido ao código hegemônico europeu e norte-americano branco.


Qual a importância das ONGs para a arte-educação?



Ana Mae Barbosa - As ONGs que nascem de projetos comunitários fazem trabalhos extraordinários. Há muitos projetos interessantes em desenvolvimento no Nordeste, por exemplo. Mas há quem pense apenas em formar orquestras para algumas empresas mostrarem que têm responsabilidade social. Tenho visto barbaridades, projetos equivocados, pensados para projetar o presidente da empresa ou o nome da mulher dele na revista Caras. Há projetos que instalam ateliês temporários em favelas, em que a comunidade ajuda um artista famoso a pintar o que ele determina. Há outro, apresentado como grande projeto social, que leva artistas para decorarem a casa de favelados. Isso é oportunismo das pessoas explorando a ingenuidade dos pobres. Ou no mínimo uma brutal falta de consciência política. Eu não gosto que as empresas façam projetos, prefiro que elas apóiem projetos nascidos na comunidade.


O que já tem sido feito para melhorar o acesso à Arte para a grande massa? O que ainda pode ser feito?



Ana Mae Barbosa - Nos últimos anos os museus, centros culturais e mega-exposições têm se preocupado em criar departamentos educacionais, contratando educadores para facilitar a mediação entre Arte e Público. A qualidade é variável e o empenho também. Muitas vezes o educativo existe na instituição para trazer público para inflar a estatística a fim de mostrar ao patrocinador que numerosas pessoas viram a exposição. Em geral reside aí o empenho em trazer levas de escolares às Bienais de Arte e do Livro. Outras instituições realmente se interessam em dar acesso à Arte a todas as classes sociais. Quando dirigi o MAC fui criticada por dar ênfase ao educativo em um momento que só o Museu Lasar Segall e o próprio MAC investiam na Arte/Educação. Nosso trabalho foi tão frutífero que operou uma transformação no ensino da Arte nas escolas em todo o Brasil. A ampliação do educativo das instituições de Arte e a análise e sistematização do que fazem através de publicações, muito ajudaria a descobrir o que mais pode ser feito.


Fonte: Trechos extraídos de entrevista pessoal com Ana Mae Barbosa e entrevistas concedidas a Agência Repórter Social (jornalista Flávio Amaral) e Museu de Arte Contemporânea da USP.

http://www.blogacesso.com.br/?p=34




Por Micheliny Verunschk

Quando se fala em arte-educação no Brasil, não se pode deixar de falar em Ana Mae Barbosa. Nascida no Rio de Janeiro e criada em Pernambuco, foi a primeira brasileira com doutorado em arte-educação, pela Universidade de Boston. Foi diretora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), de 1986 a 1993, e presidente do International Society of Education through Art (InSea), entre 1991 e 1993. Com uma história de combatividade política a favor da educação, Ana Mae é professora aposentada da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e atuante no Instituto Superior de Comunicação Publicitária da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo. Recém-chegada de um encontro que reuniu arte-educadores em Granada, Espanha, a professora fala sobre as perpectivas do ensino de artes no país.

Em seu relato Arte-Educação no Brasil - Realidade Hoje e Expectativas Futuras, de 1989, a senhora apontava alguns impasses da educação em artes no Brasil, entre eles a precariedade dos cursos de licenciatura. O que mudou de lá para cá?
Mudou o interesse por arte. Hoje ele é mais intenso. Naquele momento, o MEC [Ministério da Educação] queria suspender o ensino da arte nas escolas. Foi uma luta muito grande até conseguirmos garantir sua permanência nos currículos pela Lei de Diretrizes e Bases para a Educação. Atualmente a arte está na escola, mas de certa forma essa permanência é burlada, pois, como no texto da lei não se especifica em quais séries o ensino deve ser ministrado, ele acaba acontecendo apenas nas séries iniciais do ensino fundamental e no primeiro ano do ensino médio, quando deveria estar presente em todas as séries. Também os cursos de pós-graduação se ampliaram muito. Na época, só havia pós na USP. Hoje, depois de um trabalho de multiplicação que partiu da própria USP, temos cursos muito bons pelo Brasil.

A senhora poderia citar alguns?
O curso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é referência para o Brasil. Com profissionais muito sérios e capacitados. O curso da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também. De um modo geral, o Brasil conta com alguns mestrados muito bons, com ótima produção que, mais cedo ou mais tarde, "contaminará" os outros níveis de ensino.

E nas relações entre a escola e a universidade, o que mudou?
Uma das estratégias da ditadura militar foi separar a escola da universidade. O papel da ditadura era o de fragmentar as relações. E quem se dedicava à educação era desconsiderado, tomado por medíocre. Eu tive colegas na ECA que me diziam: Ana Mae, você está perdendo tempo e prestígio ao se dedicar a essas "professorinhas". Hoje, há uma consciência política mais forte. A partir de meados dos anos 1990, o arte-educador adotou um discurso muito mais político. Se arte sempre foi uma posse das elites, chegou a hora de aliar a arte do povo a essa arte das elites. Trata-se do processo de empoderamento das comunidades, do qual falava Paulo Freire.

Como está a situação da arte-educação no Brasil em relação ao que se faz fora?
Em agosto do ano passado, houve um congresso latino-americano em Medellin e o Brasil teve a maior representação entre os países participantes, maior até mesmo que a Colômbia, com 45 comunicações (projetos de pesquisa em ação cultural). Podemos dizer que hoje há uma onda de valorização da arte-educação na América Latina, ao contrário da Europa, que depois do processo de Bolonha enfrenta um desânimo em relação à arte-educação que é resultado do enfraquecimento das culturas locais. Ao que parece, a educação na Europa vai mesmo partir para o fortalecimento da cultura hegemônica, o que é uma pena.

A seu ver a universidade prepara o aluno para as demandas do ensino de arte-educação?
A universidade não prepara ninguém para a excelência em nenhuma área. Depende da decisão de cada aluno se tornar um indivíduo atuante. Os currículos de arte estão engessados num modelo do século XIX. A arte na universidade está há anos-luz da arte do mundo real. Para mudar, só uma reformulação radical. Eu tenho muita confiança no ensino a distância. A Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, oferece um curso ótimo para professores em ação. Esse curso é baseado nos relatos de aula que os próprios professores apresentam, o que os aproxima de uma forma maravilhosa da realidade vivida em sala de aula.

O que a senhora acha dos Parâmetros Curriculares para o Ensino da Arte?
Os Parâmetros são um desastre. Desvirtuaram a Metodologia Triangular [proposta elaborada por Ana Mae que envolve o fazer arte, a leitura de imagens e a contextualização com a história da arte] e jogaram a arte-educação para 50 anos atrás. Pior desastre ainda foram os Parâmetros em Ação, uma cartilha que apontava até o tempo em que a turma deveria apreciar a obra. Aliás, o ministério de Paulo Renato [Souza, ministro da Educação entre 1995 e 2002] foi um horror e ficou marcado por duas coisas lamentáveis: a tentativa de extinção da universidade pública e esses Parâmetros.

Quais os desafios e limites da arte-educação no Brasil de hoje?
Vejo um grande perigo quando a arte se transforma numa receita para a pobreza, o que tem acontecido muito no Brasil. E isso geralmente acaba virando marketing de algumas empresas. Acredito na arte para a reconstrução social quando a iniciativa surge das próprias comunidades e estas buscam a contrapartida em empresas sérias. Por isso, tenho muita crença nos editais. Acho que também há uma grande necessidade de se ampliar a recepção às artes, afinal não se deve resumir só à formação. Há futuro, sim, para a arte-educação no Brasil sem paternalismo, sem colonialismo. E essa é uma boa esperança de se ter.

http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2720&cd_materia=368


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