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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ARTE, S.O.S.

ARTE, S.O.S.

Arqueólogos com treinamento militar e agentes de restauro vão a zonas de guerra pelo mundo para proteger obras de arte em risco

Apu Gomes/Folhapress
Ruínas grecoromanas de Cirene, na Líbia

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Dias antes de deflagrarem os primeiros ataques aéreos à Líbia em março, na guerra que levou à morte o ditador Muammar Gaddafi na semana passada, tropas da Otan receberam um relatório com coordenadas dos sítios arqueológicos do país para evitar que fossem bombardeados.
Quando o conflito avançou e rebeldes tomaram Trípoli, dois agentes militares com especialização em arqueologia foram à Líbia para ver de perto os estragos da guerra.
Agora, com o leste do país sob controle das forças aliadas, uma nova missão, com restauradores e outros especialistas, está sendo planejada, para ver o que ficou de fora das primeiras inspeções.
Cada vez que uma guerra ou desastre natural ameaça o patrimônio histórico e artístico de um país, agentes do Escudo Azul, órgão internacional que tem o mesmo peso que a Cruz Vermelha nas Nações Unidas, entram em ação em missões desse tipo.
"Este foi um momento intenso para nós, com a Primavera Árabe, o tsunami no Japão e as ações de rescaldo do terremoto no Haiti", afirmou France Desmarais, diretora do International Council of Museums (Icom), que representa museus de 140 países, numa entrevista em Brasília.
Ela é uma canadense fluente em árabe, que, de Paris, coordena as ações do Escudo Azul e do conselho global de museus. Desmarais esteve em Brasília na semana passada num seminário sobre prevenção de risco a obras de arte.
"Quando algo acontece, fazemos uma advertência oficial e uma lista de obras em perigo", diz Desmarais. "Uma das listas já evitou que 1.500 peças históricas fossem traficadas do Afeganistão para Londres, todas apreendidas no aeroporto de Heathrow."
Em tempos de guerra, esse é o segundo destino mais comum de obras de arte. Ou são destruídas no conflito ou acabam surrupiadas para engrossar coleções ilegais -o tráfico de obras movimenta, segundo Desmarais, cerca de R$ 10,6 bilhões a cada ano.
E agentes trabalham nas duas frentes. Foi o Escudo Azul que repassou as coordenadas de sítios históricos aos militares na Líbia, enquanto o Icom, associado a esse órgão, elabora listas de peças em risco e repassa a informação a agentes da Interpol.
No levante contra o ditador Hosni Mubarak, no Egito, houve saques ao Museu Egípcio e sítios arqueológicos também estavam ameaçados.
"Houve um grande tumulto e danos graves aos museus", conta Thomas Schuler, cérebro das missões à Líbia e ao Egito e responsável pelo recrutamento dos agentes do Escudo Azul.
"Nem a Interpol sabia o que estava havendo. Precisávamos entrar como observadores e ver se boatos de destruição eram verdadeiros."

DESASTRES NATURAIS
Em casos de desastres naturais, como o terremoto que arrasou o Haiti no ano passado, grupos como o Escudo Azul ou o Instituto Brasileiro de Museus, órgão do Ministério da Cultura, também coordenam ações de resgate.
Na presidência rotativa do Ibermuseus, conselho dos museus ibero-americanos, o Brasil está envolvido na reconstrução de um museu de arte naïf em Porto Príncipe.
Nos primeiros dias depois da catástrofe, homens do Escudo Azul foram à ilha avaliar os danos, convocando arquitetos de todo o Caribe numa equipe de 80 pessoas.
"Havia enormes rachaduras nas paredes e não pudemos entrar em muitos museus", lembra Schuler. "Tivemos de trazer mais especialistas para resgatar objetos."

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite do Ibermuseus.
Texto Anterior: Mônica Bergamo


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