A partir de uma carteira de cigarros, Portinari faz a lápis um retrato do músico Carlos Gomes em 1914. A família guarda o desenho.
Viaja para o Rio de Janeiro em 1918. Tem aulas de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes, na qual estuda desenho e pintura. Seus professores foram Amoedo, Batista da Costa, Lucílio Albuquerque e Carlos Chambeland.
Realiza-se em 1922 na cidade de São Paulo, a Semana de Arte Moderna, porém Portinari não participa. Expõe, pela primeira vez, no Salão da Escola de Belas Artes.
No ano de 1923, Portinari manda para o Salão da Escola de Belas Artes o retrato do escultor Paulo Mazzucchelli, ganhando três prêmios, entre eles a medalha de bronze do Salão.
Participa do Salão Nacional de Belas Artes de 1924 com o quadro Baile na Roça obra com temática brasileira, mas é recusado pelo júri.
Obtém a pequena medalha de prata no Salão de 1925, no qual expõe dois retratos, e recebe a grande medalha de prata no de 1927. Com o retrato do poeta “Olegário Mariano”, ganha o prêmio de Viagem ao Estrangeiro de 1928.
Vai diariamente aos museus, descobre a pintura moderna da Escola de Paris, discute sobre arte nos cafés e não tem quase nenhum tempo para pintar. Conhece Maria Martinelli em 1930, jovem uruguaia de 19 anos, radicada com família em Paris e se casa com ela. Sente saudade de Brodowski e escreve para o Brasil... "Daqui fiquei vendo melhor a minha terra - fiquei vendo Brodowski como ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada. Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor. Quando comecei a pintar., senti que devia fazer a minha gente e cheguei a fazer o “Baile na Roça”... A paisagem onde a gente brincou a primeira vez não sai mais da gente, e eu quando voltar vou ver se consigo fazer a minha terra..."
Portinari expõe individualmente no Palace Hotel em 1932, dessa vez exibe obras de temática brasileira - cenas de infância, circo, cirandas. No ano seguinte faz outra Exposição Individual no mesmo local.
No ano de 1934, Portinari pinta “Despejados”, obra de temática social. Intelectuais começam a ver em sua figura o verdadeiro representante plástico do modernismo brasileiro. Tem sua tela “O Mestiço” adquirida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo assim, a primeira instituição pública a incluir uma obra de Portinari em seu acervo.
Em julho de 1935 é contratado para lecionar pintura mural e de cavalete na Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Ao participar da Exposição Internacional do Instituto Carnegie, nos Estados Unidos, junto com pintores de 21 países, recebe a Segunda Menção Honrosa, com a tela "Café". Essa obra é adquirida, antes mesmo da premiação, pelo Ministro da Educação Gustavo Capanema, para o Museu de Belas Artes.
Em 1937, com a intenção de dedicar-se ao estudo para os afrescos do Ministério, Portinari, recebe a colaboração de alguns alunos da Universidade do Distrito Federal. Bianco, jovem pintor italiano recém-chegado ao Brasil, é apresentado a Portinari que o convida para trabalhar no Ministério.
O ano de 1938 é marcado pela execução dos trabalhos do Ministério da Educação. No ano seguinte nasce seu único filho, João Cândido, em janeiro desse ano. Executou três painéis para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque: Jangadas do Nordeste; Cena Gaúcha e Festa de São João. O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque adquire o quadro "O Morro", que René Huyghe, Diretor do Museu do Louvre, aconselhara Portinari a não utilizar. Em novembro, expõe 269 trabalhos no Museu Nacional de Belas Artes. A Universidade do Distrito Federal é fechada.
Em Brodowski, na casa de seus pais, Portinari passa a pintar uma capela para sua avó - "Capela da Nonna", que já não mais podia freqüentar a Igreja. Passa vários meses de 1942 nos Estados Unidos, pintando quatro afrescos para a Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington. Vê o quadro "Guernica", de Pablo Picasso, que o impressionou profundamente. Ilustra o livro infantil "Maria Rosa", de Vera Kelsey.
A pedido de Assis Chateaubriand, pinta uma série de murais para a Rádio Tupi do Rio, inspirados na música popular brasileira. Realiza nova Exposição Individual no Museu Nacional de Belas Artes em 1943. Ilustra "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.
Em 1944, pinta três painéis para a Capela Mayrink, Rio de Janeiro. Acaba de executar um ciclo bíblico, que Assis Chateaubriand compra e leva para a Rádio Tupi de São Paulo, onde a influência da Guernica de Picasso é visível. Trabalha com dois painéis da Série Retirantes. Pinta um mural e azulejos sobre a vida de São Francisco de Assis, para a Capela da Pampulha, em Belo Horizonte - MG.
Filia-se ao Partido Comunista vendo nessa organização, mesmo clandestina, a chance de lutar contra a ditadura, a favor da anistia e de eleições. Nomes de grande prestígio junto à sociedade reúnem-se à esse Partido. Candidato a Deputado Federal por São Paulo, Portinari perde as eleições. O PCB consegue eleger um Senador - Luiz Carlos Prestes e 14 Deputados.
No ano seguinte expõe na Galeria Charpentier, de Paris, seus quadros e desenhos das séries "Os Retirantes" e "Meninos de Brodósqui" . Recebe a "Legião de Honra" do Governo Francês.
Candidato a Senador, em São Paulo, pelo Partido Comunista, perde por pequena margem de voto em 1947, colocando em dúvida a lisura do pleito. Viaja para Buenos Aires, onde faz uma Exposição Individual, que volta a apresentar em Montevidéu, no Salão da Comissão Nacional de Belas Artes do Uruguai.
Em 1948, pinta em Montevidéu, à têmpera, o grande painel "A Primeira Missa no Brasil", para o Banco Boavista do Rio de Janeiro. Ilustra "O Alienista" de Machado de Assis. No final do ano, Portinari faz uma retrospectiva no MASP (Museu de Arte de São Paulo), tendo as obras Enterro na Rede, Criança Morta e Retirantes, doadas ao Museu por Assis Chateuabriand.
Participa em 1951, com uma sala especial, da 1ª Bienal de São Paulo. A Bienal conta com mais de 2.000 trabalhos de pintura, escultura, arquitetura e gravura de artistas de 19 países. Na Itália é lançada a monografia Portinari, organizada e apresentada por Eugenio Luraghi (ed. Della Mondione, Milão).
No ano de 1952 pinta para o Banco da Bahia, em Salvador, o Mural "A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia". Com ilustrações de Portinari, o semanário “O Cruzeiro”, publica o romance “Os Cangaceiros” de José Lins do Rego. Pinta um conjunto de obras sacras para a Igreja Matriz da cidade de Batatais - SP, pequena cidade próxima de Brodowski.
Participa em 1954 com mais quatorze artistas de quinze países da mostra organizada pelo Comitê de Cooperação Cultural com o estrangeiro em Varsóvia, que tem como tema principal a luta dos povos pela paz. Executa também um painel dedicados aos "Fundadores do Estado de São Paulo" para jornal O Estado de São Paulo. Expõe novamente no Museu de Arte de São Paulo. Participa da III Bienal de São Paulo, com uma sala especial. Com os sintomas da intoxicação cada vez mais presentes, é proibido pelos médicos de pintar por algum tempo. "Estou proibido de viver", reclama.
Em 1955, o Internacional "Fine Arts Council", de Nova Iorque, confere-lhe uma medalha como o pintor do ano. Ilustra o Romance "A Selva", de Ferreira de Castro. Em outubro é inaugurado o painel "O Descobrimento do Brasil", encomenda do Banco Português do Brasil, no Rio.
Viaja à Itália e Israel, em 1956, e faz exposição nos Museus de Tel-Aviv, Haifa e Ein Harod. Os painéis "Guerra e Paz" são apresentados no Teatro Municipal do Rio. Recebe o prêmio "Guggenheim's National Award", da Fundação Guggenheim, de Nova Iorque. O Museu de Arte Moderna do Rio edita o livro "Retrato de Portinari", de Antônio Callado.
Era somente para nós. Ia pela estrada afora o carro vagaroso, cantando. Dormíamos cheio de felicidades. Sonhávamos sempre, dormindo ou não. Nossa imaginação esvoaçava pelo firmamento. Fantasias forjadas, olhando as nuvens brancas, mais brancas do que a neve. Tudo se movia ao nosso redor como um passe de mágica. Belas eram as seriemas, as saracuras e os tatus. Quando víamos no chão um orifício, sabíamos a que bicho pertencia. Conhecíamos também a maioria das árvores e arbustos, sabíamos a maioria das árvores e arbustos, sabíamos suas serventias para as doenças; as chuvas, o arco-íris, as nuvens, as estrelas, a lua, o vento e o sol eram-nos familiares. O contacto com os elementos moldava nossa imaginação e enchia nosso coração de ternura e esperança."
Após 30 anos de casamento, Portinari separa-se de Maria em 1960, que, assumindo mais que o papel de esposa, ajudava-lhe com os problemas do cotidiano, deixando-o livre para dedicar-se mais tempo ao seu trabalho. Mesmo separados, Maria continua a prestar-lhe assistência. Ainda para a Librarie Gallimard, ilustra os romances "Terre Promisse" e "Rose de September", de André Maurois.
Executa cinco painéis para o Banco de Boston de São Paulo: "Os Bandeirantes", "Fundação de São Paulo", "Colheita de Café", "Transporte do Café" e "Industrialização". Expõe individualmente na Checoslováquia, em São Paulo e na Galeria Bonino, no Rio. É convidado a participar do júri da II Bienal do México. Realiza-se em Moscou, uma mostra de fotografias de várias de suas obras. Nasce sua neta Denise. Feliz com o nascimento de sua neta, declara: "Minha neta me libertará da solidão" (Poemas: cento e vinte e seis, 1960). A partir daí, passa a retratar sua neta em pintura e poesia.
Envolvido no trabalho para a exposição de Milão, descuida-se de vez de sua saúde. Morre, no dia 06 de fevereiro de 1962, na Casa de Saúde de São José, no Rio de Janeiro, vítima de intoxicação das tintas que utilizava. Seu corpo é velado no Ministério da Educação, de onde sai o enterro, com grande acompanhamento.
"Quando o esquife de Portinari saiu do Ministério, na manhã do dia 8, em carreta do Corpo de Bombeiros, dos edifícios envidraçados, do pátio do Palácio da Educação, das bancas de jornais, dos cafés em súbito silêncio diante da Marcha Fúnebre e do Hino Nacional, voltaram-se para o cortejo milhares de caras irmãs das que aparecem nos Morros, nos Músicos nos Retirantesde Portinari. Milhares de anônimas criaturas suas disseram adeus ao pintor, miraram uma última vez o claro e sutil feiticeiro que para sempre se aprisionou em losangos de luz e feixes de cor. Como se no espelho apagado da vida do artista ardesse num último lampejo tudo aquilo que refletira durante a vida". (Antônio Callado)
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