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sábado, 17 de outubro de 2009

0029. Desenho de Um Nu Com Modelo Vivo


Desenho de um Nu com Modelo Vivo




Na figura 32 apresentamos um exemplo de como aplicar os conhecimentos da geometria para desenhar com propriedade um nu.






De propósito, escolhemos para exemplo um dos mitos exercícios que os estudantes de belas-artes fazem diariamente, nas suas aulas de desenho de nu com o modelo vivo. Como se pode observar, o professor, no caso dado, compôs o modelo colocando-o em meio a um conjunto de sólidos geométricos.
Com o fim de tornar mais interessante o conjunto, foram ali agrupados diversos corpos geométricos: prismas retangulares de várias medidas e proporções, os quais, ao mesmo tempo em que servem de apoio ao corpo humano, estabelecem o contraste necessário ao equilíbrio da composição.
O desenho que estamos estudando nos mostra, na sua parte inferior, um plano de certa amplitude: é a parte superior de um estrado de madeira onde os professores colocam o modelo, para que estudem os discípulos.
Para dar-lhe ainda maior elevação, foi o modelo colocado sobre um prisma chato de madeira. Por trás dele se vê outro corpo geométrico: é um cilindro largo, isto é, uma coluna, a que se encostou outro prisma igual ao que serve de apoio ao modelo, mas colocado em posição diferente. No outro lado foi colocado também um sólido, a que se apóia um pano, que serve para unir os elementos geométricos, bem como para dar lugar ao traçado das linhas curvas, e assim estabelecer o contraste com as retas dos sólidos. Observaremos que, tanto o cilindro como os outros sólidos geométricos, ao mesmo tempo em que servem de apoio para o modelo - como no caso do cilindro, que á maneira de coluna, permite apoiar o braço direito - assinalam especialmente as linhas verticais, também chamadas linhas estáticas; o corpo do modelo, por seu turno, apresenta uma série de flexões, que vão marcando as linhas oblíquas, também chamadas linhas dinâmicas.
Quando tivermos a intenção de dar a qualquer composição um aspecto agradável, convém estabelecer sempre certa equivalência entre as linhas, de maneira que as retas estejam perto das curvas, e vice-versa. Mediante esse contraste, as linhas se robustecem entre si. Este princípio fundamental das leis da composição tem aplicação constante em toda as obras de arte, quer se trata de quadros com representação da figura humana, quer se trate de paisagens, ou mesmo de esculturas, visto que as leis de equilíbrio são comuns a todas as artes plásticas.
Ocupemo-nos de novo do desenho que nos revela a figura 32.







Vemos ali que o processo de sua realização oferece muita semelhança com todos os outros estudos realizados até este momento, quando, em virtude da disciplina intelectual que nos impusemos, chegamos ao ponto mais difícil da arte do desenho, como é o realizar um bom estudo do modelo vivo. Para obter um bom desenho deve o estudante pensar, antes de qualquer coisa na maneira de distribuir as massas mais importantes do conjunto, a fim de que não lhe ocorra, quando já estiver adiantado o trabalho, a desagradabilíssima surpresa de não caber a cabeça do modelo no papel; e isso acontece com freqüência ás pessoas que trabalham sem método, embora este destes tempos muito remotos e tinha sido aperfeiçoado pela moderna pedagogia do desenho.
Por essa razão, aconselhamos colocar o conjunto de maneira harmônica, dentro da folha do papel, compreendido nele não só o modelo vivo, mas também os sólidos da composição apresentada como exemplo.
Como se vê, o desenho foi muito bem apresentado pelo autor que se valeu de linhas retas para construir sua obra. Ditas linhas nos facilitam enormemente a tarefa, pois permitem ao mesmo tempo medir as partes do nu por meio de ângulos retos, e em outros, ou ainda de obtusos, conforme a posição em que se achem os membros inferiores ou superiores.
Uma das coisas que não nos devemos esquecer é colocar o ponto médio do nu, que em geral fica situado na altura da pélvis, se o modelo é de estatura da pélvis, se o modelo é de estatura comum. Este centro varia, se o modelo é muito baixo ou muito alto; mas em todos os casos convém procurar a parte média da figura, para traçar uma linha que nos permita ver com facilidades e as duas metades do modelo estão bem situadas no papel. Isto facilita muita a tarefa do estudante visto que seu olho ainda não tem a segurança necessária para abordar os conjuntos, cometendo por isso inúmeros erros nas proporções dos desenhos.
Uma vez traçada a parte média do modelo, já estamos certos de que não nos faltará depois o papel para desenhar o resto do corpo, pois uma simples olhadela, calculando de antemão a superfície que desejamos ocupar, bastará para que o desenho venha a ser da medida desejada, e não de nenhuma outra. O contrário significaria trabalhar em desordem sendo certo que, quando um trabalho em desordem, sendo certo que, quando um trabalho se conclui numa medida imprevista não agrada nem mesmo ao seu autor, que só ao terminar a obra dá pela coisa. Portanto, devemos começar a trabalhar com método, para obter os desenhos na medida que nos propusemos. Assim, traçada a linha que marca a metade da altura do modelo, seja ela horizontal ou obliqua, conforme a posição das cadeiras, começaremos bosquejando, com linhas retas, todo o conjunto, para que, afinal, não venham os pés a ficar ao papel.
O traçado do conjunto por meio de linhas retas tem a virtude de ensinarmos a ver a posição, tanto do tronco como dos membros inferiores e superiores, está mais ou menos justa. As linhas verticais e horizontais próximas nos indicam facilmente o grau de inclinação que devem ter as linhas vizinhas, que vamos traçando com o propósito de desenhar as formas, seja a de uma perna, seja as de um braço ou de outra parte qualquer do corpo humano.
Observe-se que as pernas da figura 32 foram encerradas dentro de linhas retas, o mesmo acontecendo com a coxa, o tronco, os braços, os seios, a cabeça, etc. E chegaremos assim ao momento, dos detalhes, na sua forma anatômica característica. A princípio, bastar-nos-á cuidar das medidas dos ossos, para saber proporcionar uma figura humana, cabendo aqui recordar que as proporções do corpo humano são sempre determinadas pelos ossos; por outro lado, os músculos dão á forma o revestimento externo, além de moverem os ossos quando acionados por ordem do sistema nervoso central, que tem sede no cérebro.
No mesmo desenho se levantaram diversas linhas verticais para encerrar dentro delas a figura humana; de igual modo se traçaram outras linhas horizontais, que servem ao mesmo tempo para estabelecer certas proporções, e para graduar a inclinação a dar ás obliquas que as cercam.
O trono da figura humana apresenta uma ligeira inclinação, a qual, em virtude da proximidade das linhas retas do cilindro e de outras, também vizinhas, parece maior do que é na realidade. Isto se deve ao contraste que com estas elas estabelecem-se. Se traçarmos uma linha entre a pélvis e o esterno, haveríamos de ver que na verdade, a inclinação do tronco é muito suave, e que parecia menor ainda se não estivessem perto as linhas verticais.
Traçadas as linhas retas que, tal como uma caixa, encerra o tronco, procuramos encerrar da mesma maneira os membros inferiores, seguindo a ordem lógica: depois do torso, as coxas. As três linhas retas vistam na coxa direita do modelo nos indicam que uma delas e do centro, foi traçada com a intenção de situar o eixo, que neste caso representa o osso fêmur; foram traçadas em seguida as linhas retas que encerram a perna e o pé. As linhas construtivas que de modo tão simples nos dizem do grau de inclinação da perna demonstram que esta faz com a coxa uns ângulos obtusos, cujo vértice está no joelho. Isso nos permitiu desenhar a linha que com a forma de esse muito aberto assinalar o relevo da barriga da perna, o resto da perna e o calcanhar. Na parte anterior procede-se da mesma maneira, indicando sempre os acentos principais da forma. E de modo igual procedemos com o pé.
Temos já apresentadas as massas principais de uma estátua, ou de um nu de modelo vivo. A propósito do desenho de estátuas, julgamos muito conveniente alternar os estudos do modelo vivo com os de diversas estátuas. Achamos de grande utilidade este exercício, contanto que não cheque a fatigar o aluno, que em geral prefere desenhar o modelo vivo. Quando uma pessoa deseja desenhar uma estátua qualquer, deve agir tal como age ao desenhar o modelo vivo, razão pela qual nos estendemos em explicações já dadas ao ser apreciado este problema.
Apresentamos, como dizíamos as massas principais do modelo, de sorte que agora nos podemos dedicar ao desenho mais detido do nu.
Estando já resolvidas as massas maiores e de mais difícil apresentação, tratamos de desenhar melhor a cabeça, sim pormenorizá-la, mas apenas resolvendo a por meio de grandes planos, tal como se fosse um braço ou uma perna, encerrando-a também, geometricamente, em linhas retas.
Observemos também a linha reta que une os ombros obliquamente. Em seguida, a vertical que passa pelo centro do esterno e alcança o ponto chamado de forquilha (do mesmo osso), onde se vão unir importantes músculos do pescoço. Seguindo o que aprendemos em nosso exercício de desenho construtivo, podemos observar que uma linha vertical foi traçada com o fim de estabelecer a saliência da cabeça. Uma oblíqua indica a inclinação do pescoço, e outras assinalam os contornos da massa dos cabelos, a posição da maxilar inferior, a inclinação do rosto o perfil do nariz, etc.
Uma vez colocada à cabeça no seu devido lugar, cuidaremos de colocar os braços. Vejamos, por exemplo, o braço direito do modelo: está apoiado sobre a parte superior da coluna cilíndrica; o plano de apoio é horizontal o que nos permite comparar a obliqüidade das linhas que á maneira de uma caixa encerram o braço: a articulação do cotovelo coincide com a linha vertical levantada em prolongamento de uma das arestas do prisma colocado à direita da coluna cilíndrica em que se apóia o braço referido. Traçaremos depois as linhas que encerram o antebraço, observando constantemente que este é sempre mais curto que o braço, tal como o determina a sua construção óssea interna. Desenharemos a seguir, também de forma muito simples, a mão direita, que está entrelaçada com a esquerda. O braço esquerdo está encerrado dentro de linhas retas em posição oblíqua. Segue-se o antebraço resolvido nas mesmas condições. Observe se que a partir da articulação do cotovelo esquerdo, foi baixada uma linha vertical que coincide com o joelho direito, ao mesmo tempo em que se projeta até a base para indicar o prumo; em compensação, na articulação da mão esquerda com o antebraço foi traçada uma linha reta em posição horizontal, que serve para delimitar espaço servindo também de referência para as obliquas vizinhas.
Aqui fazemos uma advertência: caso se queira desenhar um nu que ocupe totalmente o papel, sem o recurso de o compor com outros corpos sólidos, procederemos como ficou dito, quanto á sua apresentação, isto é, dividiremos a altura do modelo em duas partes iguais e o encerraremos em linhas geométricas simples, acostumando-nos destarte a construir o desenho prescindindo de qualquer detalhe que nos possa distrair.
Convém fixar de antemão a medida em que se deseja realizar o desenho do modelo de nu, para que não venha ele a ser concluído em proporções inesperadas. Basta, para isso, além do sistema de centralização por meio de diagonais, reservar um espaço conveniente na parte inferior e outro um pouco menor na parte superior do desenho. É preciso não esquecer que o espaço livre do papel tem também uma função importante dentro do conjunto. Procuraremos ter o máximo cuidado de evitar espaços livres excessivos, a fim de não prejudicar a importância e o efeito do modelo.





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