Revista
Artes Visuais
Sala de Aula - Dezembro 2011
Como fazer a leitura de obras de Arte?
Apresente aos alunos a trajetória do italiano Giorgio Vasari, um dos primeiros e mais importantes críticos de arte da história e discuta com a turma como devemos perceber as obras de arte em diferentes contextos e sociedades
por Carlos Arouca
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Divulgação
Objetivos
- Trabalhar as noções de discurso estético e de leitura de obras na História da Arte.
- Reconhecer e defender gostos pessoais em Arte, com base em argumentos vinculados à História da Arte e seus artistas.
- Saber construir um texto dissertativo com coerência.
Conteúdos
- História da Arte.
- Leitura de obras.
- Estética.
Tempo estimado
Duas aulas.
Materiais necessários
Cópias da reportagem “Na casa dos artistas” (BRAVO!, Ed. 172, dezembro de 2011) para todos os alunos; computador com data show e acesso à internet para mostrar imagens aos alunos; lápis grafite; papel de monobloco.
Introdução
A reportagem “Na casa dos artistas”, publicada em BRAVO! (Ed. 172, dezembro de 2011) fala sobre o trabalho do italiano Giorgio Vasari (1511-1574), considerado o primeiro crítico de arte da história. No século 16, Vasari explorou o gênero biografia em seus textos e escreveu sobre as vidas de inúmeros artistas.
A reportagem é um bom mote para trabalhar com os alunos a seguinte questão: se no campo teórico da arte, as diferentes maneiras de se tratar de conceitos, movimentos ou trajetórias individuais atravessam séculos e passam pelas mais variadas abordagens, o trabalho com arte inserido dentro do contexto escolar também deve voltar sua atenção para a forma de tratar os aspectos conceituais relacionados à disciplina artística?
Primeiramente, é possível citar como experiência no Brasil nos anos 1980 a introdução da Metodologia Triangular de Ana Mae Barbosa, diretamente influenciada pela DBAE (sigla para Discipline Based Art Education, proposta de ensino de Arte desenvolvida nos Estados Unidos na década de 1980, fundamentada pela parceria entre a produção artística, a História da Arte, a Crítica e a Estética).
Vale lembrar que a estrutura definida na Metodologia Triangular foi alterada nos anos 1990, quando a ideia de “apreciação artística” foi substituída pelo conceito de “leitura de obras de arte”.
O conceito de apreciação em Arte, também incluído nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) da disciplina, expõe as situações de estudo e análise de obras, artistas ou movimentos em sala de aula. Por isso, é importante que seus alunos compreendam a importância da crítica e da História da Arte para as aprendizagens de leitura de obras.
Desenvolvimento
1ª AULA – Exercícios de leitura de obras de arte
Comece a aula explicando aos alunos que, nos próximos encontros, vocês irão trabalhar as noções de estética e de leitura de obras de arte. Pergunte à turma o que é a Arte para eles e peça que mencionem o que observam em uma obra de arte: a beleza? Os materiais de que é feita? Eles procuram saber algo sobre o artista ou o contexto de produção daquela obra?
Em seguida, mostre à turma um dos vídeos da série “Obra revelada”, disponível em http://abr.io/obra-revelada. Trata-se do depoimento de Edilson de Souza, funcionário da Pinacoteca de São Paulo. Na gravação, ele fala sobre uma obra de arte de que gosta, mesmo sem ter estudado nada a respeito do assunto. A tela em questão chama-se “Ventania” e foi pintada em 1888 por Antonio Parreiras (1860-1937).
Depois da exibição do vídeo, de mais ou menos dez minutos, conte à turma que a série foi produzida pelo professor Jorge Coli, um dos mais importantes pesquisadores de arte do país. Em seguida, reserve um tempo da aula para que os alunos comentem suas impressões a respeito do depoimento do funcionário. Que leituras ele faz da obra?
Depois, distribua cópias da reportagem de BRAVO! aos alunos e façam uma leitura coletiva do texto. Explique quem foi Giorgio Vasari e comente que seus escritos e biografias de artistas mudaram o que conhecemos a respeito da História da Arte. Afinal, ele foi o primeiro grande crítico da história, responsável por registros importantes dos feitos de artistas bizantinos e renascentistas. Peça que os alunos comentem o que compreenderam da reportagem, tentando fazer associações entre a forma de observação e registro utilizada por Vasari e o depoimento do funcionário Edilson de Souza.
Como lição de casa, solicite que cada aluno escolha uma obra de arte de que gosta e escreva um breve texto explicando os motivos de sua escolha. Para a próxima aula, ele deverá trazer seu comentário escrito e a reprodução da obra selecionada, para que o material seja compartilhado com os colegas.
2ª AULA – Socialização dos textos sobre obras de arte
Retome as discussões da aula anterior, sobre diferentes maneiras de se perceber ou ler obras de arte e organize uma discussão para que os alunos exponham seus argumentos a respeito das obras que analisaram em casa. Peça que, antes de cada explicação, as reproduções das obras selecionadas sejam mostradas aos colegas.
Depois de socializados os textos, comunique que você vai apresentar a imagem de outra obra de arte importante para a história. Neste momento, entregue aos alunos uma reprodução (ou projete na tela, caso sua escola disponha de um data show) do trabalho “Roda de bicicleta”, feito em 1913 por Marcel Duchamp.
Deixe que os alunos observem a obra por alguns minutos e façam comentários entre si. Em seguida, permita que eles socializem suas impressões com a turma e complemente as opiniões dos estudantes com informações sobre o contexto de produção dos chamados ready-mades de Duchamp: objetos tirados de seu contexto ou função usual e elevados à categoria de arte, seja por sua reorganização, seja pela forma como são colocados nos espaços expositivos.
Conte que, no contexto da Arte Moderna, a arte de Duchamp é desprovida de qualquer sentido heroico. Ele não desejava levar arte às massas nem beleza ao cotidiano. Duchamp também não estava preocupado em corrigir as imperfeições da natureza ao produzir obras belas (como ocorria na pintura do Renascimento). Desde o final do século 19, o objetivo de Marcel Duchamp e de outros artistas modernos era refletir sobre o próprio fazer artístico. O mais claro e contundente convite de Marcel Duchamp nesse sentido são seusready-made. Ao tirar um objeto comum de seu contexto e elevá-lo à categoria de arte, ele anunciava ao mundo: a habilidade manual do artista já não basta para definir uma obra.
Na realidade moderna, tomada pelas mais diferentes possibilidades de reprodução, o pensamento do autor por trás de seu trabalho, a ideia e a concepção das obras tornam-se mais importantes que a busca pela perfeição estética. Para Duchamp, instalar uma roda de bicicleta sobre um banco era um jeito de fazer com que o espectador deixasse de vê-la como parte da bicicleta e passasse a admirá-la por seus contornos. O que torna essa roda uma peça valiosa no mercado de arte, contudo, não é sua beleza, mas a “sacada” do artista. O deslocamento do objeto é o que agregava valor a ele. E Duchamp foi um mestre na escolha de seus ready-mades, como o “Porta-garrafas” e a “Fonte”.
Reitere para a classe que na Arte, assim como em outros campos de estudo, é muito importante buscar informações sobre o que se está observando e que grande parte destas informações podem ser obtidas em livros ou em apresentações orais.
Como lição de casa, peça aos alunos que escolham uma nova obra de arte para análise, comparando-a a obra analisada anteriormente. Desta vez, é importante que os estudantes não argumentem apenas com base em suas impressões, mas busquem informações a respeito do contexto histórico de produção e exibição das obras. Você pode orientá-los levando para a sala artigos escritos por críticos e curadores, como alguns trechos do livro Vida dos Artistas (Martins Fontes, 2011), escrito por Giorgio Vasari.
Avaliação
Leve em conta os trabalhos escritos e as apresentações dos alunos em sala. Observe se todos compreenderam a importância de se fazer a leitura de obras de arte com base em informações que estão para além da simples observação da obra e analise se todos compreenderam a diferença entre estética e arte. Se desejar, complemente a explicação mostrando à turma uma experiência real de alunos de uma escola de São Paulo que aprenderam a fazer a leitura de obras a partir de uma visita à Bienal:http://abr.io/video-bienal
Consultoria Carlos Arouca, Professor de Arte da Escola Vera Cruz, em São Paulo.
Fonte: Revista Bravo - Artes Visuais
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