Produzidas na primeira metade do século 20, réplicas de esculturas
icônicas da história da arte estão expostas em São Paulo ao alcance de um
bilhete único
TEXTO: BRUNO B. SORAGGI
FOTOS: ALBERTO ROCHA
NARRAÇÃO: MELINA CARDOSO
FOTOS: ALBERTO ROCHA
NARRAÇÃO: MELINA CARDOSO
13/03/2016
Com o dólar e o
euro custando os olhos e a cara, talvez não dê para viajar para a Europa tão
cedo. Se servir de consolo, saiba que não é preciso ir a Florença, na Itália,
para ver o bíblico “Davi”, esculpido por Michelangelo (1475-1564), nem ir ao
Louvre, em Paris, para tirar fotos de “Diana, a Caçadora”, do artista francês
Jean-Antoine Houdon (1741-1828).
O inimigo de Golias
pode ser contemplado no Tatuapé, zona leste. A figura da deusa romana, por sua
vez, encontra-se na praça Pedro Lessa, próxima ao Centro Cultural Correios, no
Anhangabaú, região central. E há outras.
Da Aclimação à
Lapa, réplicas de estátuas icônicas de diferentes períodos da história da arte,
cujas versões originais se encontram em museus europeus, estão expostas em São
Paulo ao alcance de uma baldeação.
Segundo inventário
da prefeitura, há 12 obras em logradouros públicos classificadas como cópias.
Algumas, como a reprodução de “Amalteia e a Cabra de Júpiter”, no parque da
Luz, foram importadas.
A maior parte,
porém, foi produzida em oficinas do Liceu das Artes e Ofícios de São Paulo na
primeira metade do século 20. Para tal, foram utilizadas técnicas de fundição
de bronze e modelos de gesso, trazidos da Europa e tirados diretamente das
obras que representam.
“Os exemplos
serviam não apenas para enfeitar praças, mas para o aprendizado”, afirma
Percival Tirapeli, 63, professor da Unesp.
“Aliava-se, assim,
a busca por uma arte monumental, considerada necessária aos projetos de uma
cidade em expansão”, diz Maria Hirszman, 49, crítica de arte e consultora da
Enciclopédia Itaú Cultural.
Fundado em 1873, o
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo –que já ocupou o atual prédio da
Pinacoteca do Estado e foi dirigido pelo arquiteto Ramos de Azevedo
(1851-1928)– tinha como intuito formar mão de obra para o desenvolvimento
econômico e cultural de uma São Paulo inspirada em ideais urbanos europeus e financiada
pela pujança cafeeira.
Hoje considerados
relíquias, os modelos de gesso eram armazenados no galpão do centro cultural do
Liceu, que pegou fogo em fevereiro de 2014 em razão de um curto circuito.
À época, o prédio
estava com auto de vistoria do Corpo de Bombeiros vencido, e o fogo causou
danos a algumas das figuras -são 35 no total, segundo levantamento recente.
O trabalho de
recuperação dessas peças teve início em agosto de 2015. A primeira a ser
concluída foi a versão em gesso da “Pietá”, de Michelangelo (exposta
verdadeiramente em mármore na Basílica de São Pedro, no Vaticano), a um custo
de R$ 20 mil.
“Fizemos essa
primeira em caráter experimental para depois desenvolver métodos e conferir se
a projeção foi correta ou não”, avalia o restaurador Júlio Moraes. As obras do
novo centro cultural também foram iniciadas.
O LOUVRE NÃO É AQUI
É claro que, por
intempéries, abandono ou vandalismo, algumas dessas réplicas paulistanas estão
bastante deterioradas. E não só elas.
Segundo Mariana
Falqueiro, 35, chefe da seção técnica de monumentos e obras artísticas do
Departamento do Patrimônio Histórico, ligado à Secretaria Municipal de Cultura,
das 436 obras de arte catalogadas em inventário público, 10% estão danificadas
ou são consideradas desaparecidas.
“Essas obras acabam
refletindo uma situação urbana e sofrendo com uma ação social”, avalia
Falqueiro. “Acredito que essa cultura de preservação também exija um processo
educacional. O trabalho de reparo é caro, e a população deve cobrar mais. Mas a
conservação dessas obras de arte também depende muito da apropriação social, de
a população saber o que significam. De que elas não sejam entendidas como
elementos estranhos na paisagem.”
“A cidade possui
grande acervo de obras de arte em parques e praças, mas não tem uma gestão de
conservação. A atual política cultural consegue tombar um patrimônio no papel,
mas ainda não sabe como zelar ou salvaguarda-lo”, afirma Walter Ramos, 55,
coordenador do Instituto Pró-Monumentos, que, desde 2006, desenvolve diversos
projetos voltados à preservação e catalogação do acervo em lugares públicos.

RÉPLICA DA ESTÁTUA
"DAVI", DE MICHELANGELO, NO TATUAPÉAlberto
Rocha/Folhapress
“Davi”
Segundo a Bíblia,
Davi derrotou o gigante Golias com uma funda (espécie de estilingue).
Na interpretação do
professor de artes da Unesp Percival Tirapeli, a representação esculpida por
Michelangelo (1475-1564) traz “o olhar profundo e o momento exato antes de
arremessar a pedra por meio da funda [espécie de estilingue], praticamente oculta
em sua mão.”
A réplica
paulistana do pastor bíblico, feita de bronze e argamassa, foi instalada no
interior do estádio do Pacaembu em 1940, ano de inauguração do espaço dedicado
à prática de esportes.
Lá permaneceu até
1969, quando, com a construção do “tobogã” e o fim da concha acústica, foi
movida para a praça Charles Miller.
Em 1974, a obra foi
levada para o Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador, na zona
leste, em cuja entrada se encontra até hoje.
Em 2002, o então
administrador do Pacaembu chegou a reivindicar que a peça voltasse à sua casa
original, causando descontentamento em moradores do Tatuapé, que, depois de
tanto tempo, já tinham a estátua como parte de sua paisagem. A mudança, porém,
acabou por não ser realizada.
Alberto Rocha/Folhapress

Tanguinha
Em reportagem da Folha feita naquele ano, a socióloga Fátima Antunes, do Departamento de Patrimônio Histórico da prefeitura, afirma que a imagem do homem nu constrangia frequentadores do estádio. “Nos desfiles de 7 de Setembro cobriam a escultura com uma tanguinha”, conta.
Em reportagem da Folha feita naquele ano, a socióloga Fátima Antunes, do Departamento de Patrimônio Histórico da prefeitura, afirma que a imagem do homem nu constrangia frequentadores do estádio. “Nos desfiles de 7 de Setembro cobriam a escultura com uma tanguinha”, conta.
Original: Florença, Itália | Réplica: r. Canuto
Abreu, s/nº, Tatuapé, zona leste

RÉPLICA DO GRUPO ESCULTÓRICO
"LAOCOONTE" NO PARQUE DO IBIRAPUERAAlberto
Rocha/Folhapress
“Laocoonte”
O grupo escultórico
“Laocoonte”, datado aproximadamente dos anos 40 a.C, é uma das obras de arte
mais marcantes do período helenístico (de 336 a.C a 146 a.C), segundo o
professor de artes da Unesp Percival Tirapeli.
A peça, cuja
autoria é atribuída aos escultores Agesandro, Atenodoro e Polidoro (da cidade
grega de Rodes), representa o momento de dor e angústia de Laocoonte e seus
dois filhos ao serem picados por cobras enviadas pelo deus grego Apolo –há
versões da história que citam Atena ou Poseidon como os autores da punição.
O severo castigo
infligido ao sacerdote decorreu da tentativa deste de convencer os cidadãos de
Troia a não aceitar o grande cavalo de madeira dado a eles pelos gregos. Como
se sabe, o presente revelou-se uma estratégia para fazer entrar na cidade os
soldados inimigos que se escondiam em seu interior.
Alberto Rocha/Folhapress

Quando foi
descoberta, no ano de 1506 em Roma, a obra estava incompleta: faltava-lhe o
braço direito de Laocoonte. Diz-se que, após debates entre renomados artistas
da época, optou-se por reconstituí-la com o braço esticado, dando a Laocoonte
ares de heroísmo.
Após muitos anos, o
braço original foi encontrado, e a posição correta era dobrada.
Baseada em moldes
de gesso comprados pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo no início do
século 20, a réplica paulistana de bronze, instalada no parque Ibirapuera,
imita a versão com braço esticado.
Original: Museus Vaticanos (Roma, Itália) |
Réplica: Parque Ibirapuera

RÉPLICA DE ESTÁTUA "MÍLON
DE CROTONA", DE PIERRE PUGET, NA PRAÇA BUENOS AIRESAlberto
Rocha/Folhapress
“Mílon de Crotona”
A escultura
representa a figura de Mílon, da cidade de Crotona, um exímio atleta olímpico
da Antiguidade.
Iniciada em 1671 e
finalizada em 1682, a obra, cuja versão original é do francês Pierre Puget
(1620-1694), tem 2,70 metros de altura.
Alberto Rocha/Folhapress

Conta a história
que, já velho, Mílon, discípulo do matemático Pitágoras, resolveu mostrar sua
força partindo ao meio o tronco de uma árvore já parcialmente derrubada.
Ao fazê-lo, suas
mãos ficaram presas e ele acabou sendo devorado por lobos –que, na escultura,
foram substituídos por um leão.
A peça pode ser
interpretada como a representação da vitória do tempo sobre a força, o vigor e
o orgulho humanos.
Original: Museu do Louvre (Paris, França) |
Réplica: Parque Buenos Aires

RÉPLICA DA OBRA
"ESPINÁRIO", NA PRAÇA ALFREDO WEISZFLOG, LAPAAlberto
Rocha/Folhapress
“Espinário”
Datada do século 1º
a.C, a escultura se destaca pelo gesto humano e trivial que representa: um
jovem sentado removendo um espinho de seu pé.
Alberto Rocha/Folhapress

De acordo com
Walter Ramos, coordenador do Instituto Pró-Monumentos, a estátua é uma réplica
de bronze executada pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo em 1941 com base
em uma réplica do Espinário de Roma, que reproduzia o original grego (séc. 2º
a.C).
Original: Museus Capitólios (Roma, Itália) |
Réplica: EMEI Noemia Ippolito (Praça Alfredo Weisflg, s/n, Lapa)

RÉPLICA DA ESCULTURA
"MOISÉS", DE MICHELANGELO, NA GALERIA PRESTES MAIAAlberto
Rocha/Folhapress
“Moisés”
A figura original
de Moisés, esculpida por Michelangelo em mármore entre os anos de 1513 e 1515,
integra um conjunto que compõe o mausoléu do papa Júlio 2º.
O professor de
artes da Unesp Percival Tirapeli relembra a lenda de que, ao terminar seu
trabalho, diante da perfeição, o artista teria batido no joelho da estátua e
perguntado: “Por que não fala?”.
Alberto Rocha/Folhapress

A réplica de bronze
produzida pelo Liceu de Artes e Ofícios da cidade de São Paulo na década de
1940 encontra-se escondida ao lado de uma escada da galeria subterrânea Prestes
Maia, que liga a praça do Patriarca ao vale do Anhangabaú, no centro.
De acordo com
Tirapeli, “nessa peça concentra-se todo um ideal da representação figurativa,
ampliado para uma genialidade de inspiração religiosa.”
Original: Basílica de San Pietro in Vincoli (Roma,
Itália) | Réplica: Galeria Prestes Maia (centro)

RÉPLICA DE ESCULTURA
"MERCÚRIO EM REPOUSO", NA PRAÇA DA REPÚBLICAAlberto
Rocha/Folhapress
“Mercúrio em Repouso”
Representante do
período helenístico, época em que Alexandre, o Grande, construía seu império do
Egito à Índia, a escultura tem autoria atribuída a Lísipo (séc. 4ºa.C), que,
segundo o professor de artes visuais da Unesp Percival Tirapeli, “foi
considerado o mais profícuo artista da época, tendo produzido 1.500 peças
fundidas em bronze”.
Segundo a mitologia
greco-romana, a divindade Hermes (Mercúrio, para os romanos) era o mensageiro
dos deuses, representado com agilidade e tendo como atributo asas no pé.
Na reproduzida pelo
Liceu de Artes e Ofícios e instalada na praça da República, no centro de São
Paulo, vê-se um jovem descansando sem sua indumentária.
Alberto Rocha/Folhapress

“Com leve torção no
ombro, o corpo projeta-se para a frente enquanto uma das pernas se curva para
trás e a outra se alonga, ampliando a espacialidade da escultura, que se
apresenta em uma configuração equilibrada entre cheios e vazios, tornando-a
visualmente leve.”
Para o
especialista, ainda chama a atenção a “complexidade do processo de fundição da
peça”, com partes dela tocando-se apenas levemente –uma mão na rocha e outra
livre, repousando sobre a coxa, só o calcanhar encostando no solo.”
A posição mais baixa
também intensifica a sensação de cansaço da figura, que parece arfar, como
denota a musculatura de seu abdômen.
Original: Museu Arqueológico Nacional de Nápoles
(Itália)| Réplica: Praça da República

RÉPLICA DE ESTÁTUAS DE TÚMULOS
DA FAMÍLIA MÉDICI NA FONTE MILÃO, NA AV. REPÚBLICA DO LÍBANOAlberto
Rocha/Folhapress
Fonte Milão
As quatro
esculturas que integram a Fonte Milão, situada na praça Cidade de Milão (ao
lado do parque Ibirapuera, na av. República do Líbano), são réplicas de
esculturas feitas por Michelangelo entre 1526 e 1533 para os túmulos de
Giuliano e Lorenzo di Médici, instalados na basílica de San Lorenzo, em
Florença, na Itália.
Essas imagens
representam o dia, o crepúsculo, a aurora e a noite, que podem ser
interpretadas como fases da vida.
Alberto Rocha/Folhapress

De acordo com
informações do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico), o anúncio de
instalação do monumento se deu em 1962, quando a capital paulista e a cidade de
Milão firmaram acordo em que se tornaram “cidades irmãs”, mas foi só em 1971
que as obras passaram a integrar o espaço público.
O texto no site da
seção técnica de levantamento e pesquisa do DPH ainda acrescenta que, “além de
homenagear Milão com uma obra de Florença e realizar uma montagem que não
permite recuperar integralmente a proposta do artista [a disposição das figuras
humanas é diferente da original], São Paulo também exprimiu certo pudor
provinciano ao encobrir o sexo das figuras masculinas com folhas de vinha”.
Original: Florença (Itália) | Réplica: Praça Cidade
de Milão (Av. República do Líbano, zona sul).

RÉPLICA DA PEÇA "AMALTEIA
E A CABRA DE JÚPITER", NO PARQUE DA LUZAlberto
Rocha/Folhapress
“Amalteia e a Cabra de
Júpiter”
A versão original deste
grupo escultórico, feito de mármore por Pierre Julien (1731-1804), foi
encomendada em 1785 para ser instalada na leiteria de Maria Antonieta
(1755-1793), no castelo de Rambouillet, na França.
A peça representa
uma história da mitologia greco-romana que tem duas versões.
Em uma delas, que
serviu de inspiração para o escultor, Amalteia seria uma ninfa que acolheu Zeus
(chamado de Júpiter pelos romanos), único filho não devorado pelo próprio pai,
Cronos (ou Saturno), e o alimentou com leite de cabra. Em outra interpretação,
Amalteia seria a própria cabra.
Alberto Rocha/Folhapress

A reprodução que
hoje está no parque da Luz, em São Paulo, foi importada da França na década de 1910
e inicialmente instalada na praça Oswaldo Cruz, no Paraíso.
Por volta dos anos
1920, ela foi deslocada e de lá e substituída pela escultura do “Índio
Pescador”, de Francisco Leopoldo e Silva (1879-1948).
Original: Acervo do Museu do Louvre (Paris, França)
| Réplica: Parque da Luz

RÉPLICA DE
"DISCÓBOLO", NA ACLIMAÇÃOAlberto
Rocha/Folhapress
“Discóbolo”
A réplica feita com
argamassa, concreto e bronze é uma cópia de uma peça feita por volta do século
4º a.C pelo escultor grego Naukydes, da cidade de Argos.
Há uma versão
exposta no Louvre, que, de acordo com o próprio museu francês, é uma reprodução
de uma estátua original perdida.
Alberto Rocha/Folhapress

Diferentemente da
versão mais conhecida do atirador de discos, feita pelo escultor grego Míron,
no qual a figura do homem já se encontra em movimento de lançamento, esta
estátua representa o momento de preparação para a ação.
Original: Museu do Louvre (Paris, França) |
Réplica: Praça General Polidoro (Aclimação)

RÉPLICA DE "DIANA, A
CAÇADORA", NA PRAÇA PEDRO LESSAAlberto
Rocha/Folhapress
“Diana, a Caçadora”
A figura, feita de
bronze em 1790 pelo artista francês Jean-Antoine Houdon (1741-1828) causou
comoção à época em razão da nudez da personagem retratada, a deusa da caça.
O professor de
artes da Unesp Percival Tirapeli chama a atenção para o fato de que, “diferente
de outras Dianas, a figura esculpida por Houdon está em sutil movimento. Seu
olhar é penetrante e seu gesto é de extrema elegância”.
Alberto Rocha/Folhapress

Alberto Rocha/Folhapress
Ele ainda convida o
observador a levar sua atenção à “leveza dos pés e às linhas curvas que nascem
nos seios, que se arredondam nas ancas e deslizam pelas coxas até a extremidade
dos dedos”.
A réplica
paulistana, instalada por volta de 1944, encontra-se bastante degradada,
faltando-lhe um braço, o arco e a flecha.
Original: Museu do Louvre (Paris, França) |
Réplica: Praça Pedro Lessa (ou “Praça do Correio”, no Anhangabaú)
Reportagem: Bruno B. Soraggi / Design e desenvolvimento: Pilker e Ricardo
Ampudia / Fotos:Alberto Rocha / Narração e edição de áudio: Melina Cardoso
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4 comentários:
Boa tarde!
Fiquei com uma dúvida, a obra de Almateia e a cabra de Júpiter, hoje localizada na Praça da Luz, você cita que ela foi importada da França, mas também cita que a original se encontra no Museu do Louvre, na França.
Minha dúvida é, a obra que se encontra na luz, é a réplica? e quem a esculpiu ? Fiquei um pouco confusa, quando disse que ela foi importada da França, dá a entender que a obra original está no meio de uma praça pública.
Poderia me esclarecer?
Estou fazendo um trabalho sobre ela.
Com relação a sua duvida da obra de Amateia e a cabra de Júpiter, hoje localizada na Praça da Luz é uma réplica da peça original. Na versão original o autor é Pierre Julien (1731-1804).
Original: Acervo do Museu do Louvre (Paris, França) | Réplica: Parque da Luz.
Inventário de Obras de Arte em Logradouros Públicos da Cidade de São Paulo
Amaltéia e a Cabra de Júpiter
Um grupo escultórico em argamassa armada, retratando uma jovem seminua ao lado de uma cabra, foi comprado pela Prefeitura na gestão de Raymundo Duprat (1911 – 1914) e implantado junto a um espelho d’água no antigo largo do Paraíso, hoje praça Osvaldo Cruz, no começo da avenida Paulista. Acreditamos que a obra tenha sido importada da França, a exemplo de outras compradas no mesmo período. Em meados dos anos 1920, a Prefeitura adquiriu obras de Francisco Leopoldo e Silva, entre elas “Índio Pescador”, e resolveu implantá-la no largo do Paraíso. Para tanto, a jovem e a cabra foram deslocadas para o Jardim da Luz.
Durante muitos anos, o grupo escultórico foi designado como a estátua de “Diana”, conforme a inscrição numa placa de bronze, providenciada provavelmente pelo Departamento de Parques e Jardins nos anos 1950. O recanto do parque onde foi implantada ficou conhecido, por extensão, como “lago da Diana”. Desconhecia-se, no entanto, sua origem, nome e autoria. Também causava estranheza o fato da jovem não exibir os elementos que costumam caracterizar as representações de Diana, deusa da lua e da caça, como um diadema com uma meia-lua na cabeça, o porte de arco e flecha, e a companhia de um cervo, numa referência ao episódio em que transformou o caçador Acteão num animal, depois de tê-la visto nua quando se banhava. Mas pesquisas realizadas pela Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa do DPH revelaram sua identidade em 2006.
Trata-se de reprodução da obra em mármore de Pierre Julien (Saint Paulien, França, 1731 – Paris, 1804), “Amaltéia e a Cabra de Júpiter” (Amalthée et la chèvre de Jupiter), concebida originalmente para a leiteria da rainha Maria Antonieta no Castelo de Rambouillet. O grupo escultórico foi encomendado em 1785. Dois anos depois, estava pronto e instalado no interior de uma gruta, construída num pavilhão decorado com baixos-relevos, também concebidos por Julien. Amaltéia e a Cabra de Júpiter (altura = 1,73m; largura =1,05m; profundidade = 0,80m) integra, hoje, o acervo do Museu do Louvre, em Paris.
Segundo a mitologia greco-romana, Cronos (Saturno para os romanos) devorou dois filhos que teve com Réia (Cibele), assim que nasceram. Para evitar que o mesmo acontecesse ao recém-nascido Zeus (Júpiter), Réia o confiou aos cuidados da ninfa Melissa e da cabra Amaltéia, que viviam numa gruta na Ilha de Creta. Além do filho Pan (Fauno), Amaltéia passou a amamentar Zeus. Como dividiam o leite de Amaltéia, Pan e Zeus são considerados irmãos de leite. Outra versão da lenda conta que Amaltéia seria uma ninfa, filha de Melisso de Creta, que teria acolhido Zeus e o alimentado com leite de cabra. Foi nesta última versão que Julien se baseou para criar sua obra.
Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa
Divisão de Preservação - DPH
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/patrimonio_historico/adote_obra/index.php?p=4536
Muito obrigada!
Me ajudou muito!!!
Uma última dúvida em relação a obra Amalteia e a cabra de Júpiter, a réplica tem algum autor específico? Ou a autoria é desconhecida?
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