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sábado, 9 de outubro de 2010

0059. ARTES VISUAIS

ARTES VISUAIS

A denominação que aqui utilizamos substitui, a nosso ver com vantagens, as de Belas-Artes e Artes Plásticas. A expressão Belas-Artes possui inegável ranço acadêmico e data de quando a Beleza passava por ser ideal perseguido pelo artista - uma Beleza que remontava á estatuária grega, e que não bastaria para englobar, p.ex., já não diremos a escultura africana, ou a arte-pre-colombiana, mas a produção de artistas como Bosch, Bruegel, Arcimboldo, Magnasco, Goya, Daumier, no todo ou em parte. Quanto a Artes Plásticas, que gozou e

“AS TENTAÇÕES DE SANTO ANTÃO”
JERÔNIMO BOSCH,. 1450-1516. Pintor hol. N. e m. em SHertogenboh

ainda goza de grande prestígio, é menos ampla do que Artes Visuais, conforme veremos abaixo, quando tratarmos de sua classificação. A noção de plasticidade implica, em verdade, a de volume num espaço real, o que se compreenderá talvez melhor quando se disser que a língua alemã utiliza o vocábulo Plastik para designar a Escultura.

Classificação.

As Artes Visuais podem ser classificadas em quatro categorias. Artes Pictóricas, Artes Plásticas, Artes Construtivas e Artes Aplicadas, de acordo com suas qualidades intrínsecas ou segundo as finalidades que busquem.
Como Artes Pictóricas classificaremos todas aquelas que se desenvolvem sobre uma superfície bidimensional: a Pintura em suas várias técnicas (óleo, têmpera, aquarela, guache), o Desenho (a bico de pena, a tinta, a giz, a carvão, a pastel), a gravura (de kincisão, de relevo, plana); como Artes Pictóricas especiais estão a Fotografia e o Mosaico. São artes plásticas todas as formas de Escultura, do baixo relevo ao bloco esculpido.
A Arquitetura preenche sozinha a terceira categoria. Quanto as Artes Aplicadas, também chamadas Artes Menores e Artes Utilitárias, compreendem a cerâmica, o vidro, os têxteis, o marfim; e de modo geral participam das mesmas qualidades das demais Artes Visuais, a cujas Técnicas se subordinam. As Artes Aplicadas podem ainda ser subdividida em utilitárias e decorativas, conforme tenham por finalidade o melhoramento das condições de vida ou a pura ornamentação.

Elementos das Artes Visuais.

São elementos das Artes Visuais - que se desenvolvem no espaço e que se dirigem antes de tudo ao sentido da visão, tal como a Música se dirige primariamente ao da audição - determinadas constantes de todas elas: o ponto, a linha, o plano, a textura, a cor, a massa e o espaço. Tais elementos não ocorrem separadamente, e sim conjuntamente, em qualquer obra de arte se bem que um sempre venha a sobrepujar os demais: a obra de arte é uma unidade para a qual concorre cada elemento com sua própria importância.
O elemento mais simples é o ponto, que não é senão diminuta marca em determinado espaço, mas que pode chamar a atenção do olhar segundo sua posição (foco). Sozinho, o ponto é elemento estático; em combinação com outros pontos, pode-se transformar em elemento sugestivo de movimentação, ritmo. Assim, um movimento regular, dentro de um tempo regular, pode ser sugerido por uma série de pontos como a que se segue:... ... ... ...; um movimento em aceleração será assim indicado: . .. ... .... ; em retardo: .... ... .. .; e assim uma infinidade de outros. Uma sucessão contínua de pontos passa a ser a linha, capaz de sugerir o movimento e tornar-se, ao mesmo tempo, por si mesma expressiva. Assim, uma linha horizontal pode exprimir a calma, o repouso, a estabilidade; a vertical, a dignidade, a sobranceria; a oblíqua, o desequilíbrio, a transição, a queda; a curva pode exprimir a sensualidade.
O plano é o espaço ocupado pela obra de arte e pode ser ideal ou real, p.ex.: em Pintura ou em Arquitetura. O plano compreende o espaço positivo, i.e., o verdadeiramente utilizado pelo artista, e o negativo, que corresponde á pausa musical e é importantíssimo, pois a visão necessita de zonas de repouso para contrabalançar o esforço despendido no espaço positivo. Á disposição, no plano, dos espaços positivo. Á disposição, no plano, dos espaços positivos e negativos, denomina-se composição espacial.
A textura é um elemento que deriva da própria qualidade física do plano. O papel, a madeira, a pedra, cada um desses materiais tem sua textura inconfundível, que se impõe ao sentido do tato, constituindo o que Bernard Berenson denominou de valores tácteis de uma obra de arte. A textura não almeja apenas a ser vista: necessita ser tocada. Isso, quando for uma qualidade apreciável da obra de arte, se convenientemente utilizado; em caso contrario transforma-se em grave defeito. É o que ocorre, por exemplo, com a maior parte da pintura contemporânea, sobretudo a denominada informal, em que à textura é dado todo ênfase, com prejuízo de todos os demais elementos.

VICENT VAN GOGH
AUTO RETRATO

Tal como a cor é de importância primaria na pintura, e secundaria nas demais Artes Visuais, a massa importa essencialmente as tridimensionais: na Arquitetura e na Escultura, muito embora esteja presente também nas artes bidimensional, ao menos como ilusão. A noção de massa implica fatalmente na de quantidade de matéria utilizada na obra de arte, e também na de gravidade dessa quantidade de matéria.
As massas aproximam-se todas de uma da forma geométricas básicas (a esfera, o cilindro, o cubo, o cone, a pirâmide), e é o reconhecimento de tais formas que concede ao ser humano uma de suas máximas fontes de satisfação com relação às massas. Sabiam-no bem os arquitetos egípcios que construíram as pirâmides, sabiam-no os arquitetos góticos que erguiam a catedral medieval em forma de cones, como o soube Brancusi ao escolher para seus “Pássaros” a forma cilíndrica elementar.
O ultimo elemento é o espaço, (que age diretamente sobre a estrutura de qualquer obra tridimensional e negativamente sobre o bidimensional espaço negativo pode ser definido como o que não é ocupado por qualquer massa). O espaço adquire toda a sua grande importância na Arquitetura e na Escultura modernas, sendo um dos axiomas da moderna teoria artística de que os espaços positivos, isto é, os verdadeiramente trabalhados pelo o artista, e os negativos concorrem igualmente para o resultado do todo.

Princípios das Artes Visuais.

As Artes Visuais são regidas por princípios, isto é por uma série de Elis imutáveis, dos quais os mais importantes são o princípio do equilíbrio, o da ênfase, o do ritmo e o da proporção.
O princípio do equilíbrio corresponde a uma exigência perene do ser humano. Por um processo a que se denominou de empatia (projeção sentimental, Einfühlung), o espectador de uma obra de arte projeta-se psicologicamente no objeto, ou na situação por ela representada ou evocada. Muitas das reações de tal ordem derivam da necessidade de equilíbrio inerente ao homem. O artista, no entanto, pode conscientemente desequilibrar sua obra, para obter certos efeitos especiais. Uma coisa é, porém, um desequilíbrio voluntariamente obtido - e que não passa, em última análise, de um equilíbrio sui generis, - e o desequilíbrio oriundo tão-somente da falta de habilidade ou de intuição.
Existem dois tipos de equilíbrio: o simétrico e o assimétrico. O equilíbrio simétrico, de origem clássica, dá ao espectador a impressão de dignidade, austeridade e repouso, mas sendo estático não o excita e repouso, mas sendo estático não o excita senão pouco intensamente; o assimétrico, mesmo sem aquelas qualidades, é de certo mais atraente aos olhos do espectador, já que não tão evidente quanto o outro.
Mesmo quando uma obra de arte obedece ao princípio do equilíbrio, não será eloqüente se determinadas formas não estiverem subordinadas a outras. A essas formas que se impõem ás demais, chama-se de formas enfáticas, e ao princípio que preside á sua elaboração, de princípio da ênfase. O princípio da ênfase faz com que o espectador de uma obra de arte de uma importância x a determinada forma depende, naturalmente, de cada artista: um pintor animalista dirigirá o olhar do espectador para esse ou aquele animal, mesmo que seu quadro represente uma vasta paisagem em que em circunstâncias normais o animal apenas ocupa discreto lugar; Pieter Bruegel pintou “A Queda de Ícaro” mas, como acima de tudo era um supremo intérprete da vida simples e encantadora dos camponeses flamengos, o episódio de Ícaro que se projeta ao mar quase fica despercebido ante a passagem do homem com seu arado e do pastor com suas ovelhas, enquanto os navios que deslizam sobre o mar e as aves que adejam ignoram totalmente o grande drama vivido pelo herói.

PIETER BRUEGEL (1525 - 1569)
Torre de Babel

O ritmo é encontrado em todas as artes, e desempenha sempre uma mesma importantíssima função. Ele já foi definido como uma sucessão de expectativas que se realizam; assim, quando um tambor emite alternadamente sons fortes e fracos, quem o ouve já sabe que, após um som fraco, virá outro, forte, e inversamente. Caso o tambor emitisse dois sons fortes consecutivos, o ritmo estaria quebrado para sempre, com a produção, no ouvinte, de uma sensação de mal-estar e desagrado. Outra definição de ritmo, mais afim ás artes visuais, explica-o como uma sucessão controlada de acentos e de pausas, ou como uma inter-reação entre os componentes entre si, e entre os componentes e o todo, de acordo com certa disposição preestabelecida. Quando se sabe que no próprio organismo humano o ritmo desempenha papel preponderante - bastando evocar a seqüência da respiração, as batidas cardíacas, a alternância das pernas que avançam numa caminhada - melhor se compreende a importância do ritmo na obra de arte. No entanto, o ritmo da obra de arte não pode se tornar enfadonho, por muito óbvio, ou por demais excitante, por demasiadamente variado, pois um e outro excesso iriam produzir, no espectador, uma sensação justamente oposta àquela que o artista desejaria proporcionar-lhe. Cabe, pois ao artista escolher o ritmo peculiar de sua obra, e para tanto pode lançar mão de uma variada série de processos, que vão da repetição até a progressão e a continuidade.
Algumas palavras enfim, sobre o princípio da proporção. A proporção é a relação entre a altura, a largura, a profundidade e o espaço ambiente. A Proporção é uma condição sine qua non da obra de arte, muito embora certos artistas a abandonem, para fins expressivos (assim, no “São Martinho”, de El Greco, a figura do santo é tão grande como a do homem a cavalo). Do mesmo modo, é pela proporção adequada entre as partes e o todo que se consegue a monumentalidade, e não pelo tamanho efetivo do todo.

EL GRECO



Enciclopédia Barsa
Editor William Benton
Volume 14 página 103 á 106.

“Vivemos graças ao caráter superficial de nosso intelecto, em uma ilusão perpétua. Para viver necessitamos da arte a cada momento, nossos olhos nos retêm formas, se nós mesmo educarmos gradualmente esse olho, veremos também reinar em nós uma força artística, uma força estética”. Nietzsche


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