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sábado, 9 de outubro de 2010

0065. Escultura

ESCULTURA

Denomina-se escultura não somente arte de modelar o barro, a cera, esculpir madeira, pedra, fundir metal, ou construírem metal ou plástico estátuas, relevos, estruturas, mas também aos produtos finais de tal arte, uma das mais disseminadas pelo mundo, desde épocas bastante recuadas. Em sua forma mais simples, consiste a escultura em argila que o homem plasma com as mãos, segundo a finalidade a que a destina - recipientes para seus alimentos, ídolos para oculto, etc. Mais tarde, para fazer estátuas mais duradouras de seus deuses, de seus soberanos ou de seus heróis, o escultor lança mão da pedra, que corta e adapta aos fins que tem em mente atingir.

Plasmar ou modelar a argila, cortar ou esculpir a pedra ou a madeira: eis dois métodos postos em uso desde a Pré-História pelo homem. O primeiro é o chamado método plástico; o segundo, o método glíptico. Pelo método plástico, a forma desejada é obtida pela adição sucessiva de material - argila, cimento, cera; pelo glíptico, com a diminuição lenta, mas constante de material - pedra, madeira, a partir de um bloco íntegro que pouco a pouco se vai adaptando aos desígnios do escultor. Esses dois métodos são a maneira especial pela qual o escultor se comunica com o mundo exterior, pouco tendo variado através de milênios. E mesmo certa escultura do séc. XX, cada vez mais próxima da arquitetura (Tatlin, “Projeto de Monumento à III Internacional”, 1920; Vantongerloo, “Construção de Relações de Volumes que Derivam da Elipsóide”, 1926; Gabo, “Projeto de Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido”, 1953; Schöffer, Cysp 2, 1956), a ponto de merecer de preferência a denominação de construção, já não mais de escultura, mesmo essa escultura do séc. XX tem de utilizar, em certos momentos, um dos dois métodos acima descritos, quando não os combina num terceiro procedimento.

Tal como a música é a arte do sentido auditivo, a escultura é a que se destina especialmente ao sentido do tato. Michelangelo, quase cego e já ao fim da vida, pedia a amigos que o conduzissem junto ao Apolo do Belvedere, a fim de que, tocando-o, pudesse senti-lo, vê-lo; cega, Helen Keller freqüentava o atelier de escultores seus amigos, já que a escultura era a única das artes visuais de que podia ainda fruir; Constantin Brancusi, enfim, compreendeu perfeitamente esse aspecto da escultura, ao denominar uma de suas obras de “Esculturas para Cegos”. Toda a escultura da Antigüidade Clássica obedece a esse princípio, segundo o qual o olho se acha sempre subordinado e subjugado ao tato; princípio, aliás, que norteará a arte escultórica de tendência tradicional, em todas as épocas e mesmo nos dias que correm.

David/Apollo
1530
Marble, height: 146 cm
Museo Nazionale del Bargello, Florence

Para serem tocados, os objetos devem possuir forma. Duas são as formas básicas da escultura: em redondo e em relevo. Uma escultura executada em redondo pode ser contornada: o espaço envolve-a inteiramente, limitando-a por todos os lados. O já citado “Apolo do Belvedere” é uma escultura em redondo, como são igualmente “Victor Hugo”, de Rodin, o “Habacuc” de Antônio Francisco Lisboa.


Victor Hugo - Auguste Rodin 1890



   Profeta Habacuc - 
Aleijadinho, Antônio Francisco Lisboa (1800 - 1805)
Técnica: pedra-sabão


Quanto à escultura em relevo, pelo contrário, não é envolvida totalmente pelo espaço, mas se desenrola, algo à maneira de uma pintura, contra uma superfície lisa, que pode ser trabalhada em alto -, ou em baixo-relevo. A mais rudimentar de todas as esculturas em relevo é a incisão, tão aparentada com o desenho que não raro com o mesmo se confunde. O artista simplesmente delimita os contornos de uma figura em qualquer material sólido. Ao contrário do que acontece com a escultura em redondo, a em relevo somente pode ser observada desde um ponto de vista, tal como acontece com o desenho ou a pintura. Certas esculturas antigas, como as egípcias, muito embora possam ser classificadas como esculturas em redondo, somente transmitem toda a sua carga estética quando observada frontalmente às esculturas em relevo, de que parecem derivar.

A escultura é a arte da expressão em volumes de massas sólidas. Esses volumes obedecem à lei da gravidade, acham-se em oposição a outros volumes, alternam-se com vazios, são dinâmicos ou estáticos, conforme a vontade e o talento do escultor. Toda a escultura tradicional precede do movimento real, o qual foi, contudo introduzido na arte escultórica no séc. XX pelo artista norte-americano Alexander Calder.

Calder é o inventor do gênero a que ele mesmo denominou de móbile, e que consiste em chapas metálicas, dispostas entre si segundo um critério matemático, interligadas por fios também metálicos. Impelido pelo vento, ou pela mão, o móbile movimenta-se, como uma vegetação tocada pela brisa, anima-se, humaniza-se, assume as mais diversas aparências, até que pouco a pouco, vencido pela lei da inércia, retorna ao repouso inicial. Na direção aberta por Calder trabalham hoje em dia diversos escultores, entre eles Anthoons, Tinguély (que ainda acrescentou ao movimento o som), Peyrissac. Igualmente afim da escultura dotada de movimento de Calder ou de Peyrissac é a escultura plurivalente da brasileira Lygia Clark, capaz de assumir as diferentes aparências, e passível de manipulação por parte do espectador, o qual da obra de arte.

O monólito abstrato, menhir, é mais antigo que o totem esculpido mais antigo, o que prova que a escultura monumental, a princípio, não tinha a norteá-la na intenção de imitar ou copiar a natureza. Não - representativa são igualmente os abeliscos egípcios, as stelae do Peru, as stambhas indianas, as pedras druidas e assim por diante. Só quando o homem teve à sua disposição meios expressivos mais amplos, voltou-se para o corpo humano como fonte principal de inspiração. Para isso concorrem diversos fatores, desde os psicológicos - o natural orgulho da auto-representação - aos puramente técnicos de vez que o corpo humano oferece em verdade excelente oportunidade ao escultor, mais que qualquer outro objeto, mais que o corpo de qualquer animal.

A princípio, o corpo humano foi representado desnudo; sempre que determinado período dá maior ênfase ao lado espiritual da vida humana, contudo, a figura desnuda cede lugar à vestida. Assim, a escultura gótica e toda a escultura medieval, de modo geral, emprestaram todo o relevo a representar das dobras e pregueados das vestimentas, cabendo à Renascença redescobrir as possibilidades do nu - explorado em todos os seus detalhes ainda no século passado por artistas como Aristide Maillol.


ARISTIDE MAILLOL
The River, lead, 1943 (cast 1948), Museum of Modern Art, New York City
Born December 8, 1861(1861-12-08)
Banyuls-sur-Mer, Roussillon
Died September 27, 1944 (aged 82)
Nationality French
Field Sculpture, Painting
Training École des Beaux-Arts


A escultura moderna abandonou quase totalmente a representação naturalística da forma humana, e em obras como “Figura Reclinada”, do britânico Henry Moore, o que se tem é não a reprodução de formas naturais, mas um comentário, uma interpretação livre do artista a essas mesmas formas, traduzidas com o máximo aproveitamento de suas potencialidades plásticas, Observa-se, assim, que a escultura vem sofrendo no séc. XX umas transformações radicais, passando de estática que era, concebida dentro de um esquema em que reinava a calma e a serenidade, a dramática, violento impacto a quem a espreita.

David
1504
Marble, height 434 cm
Galleria dell'Accademia, Florence


Breve História da Escultura

O homem paleolítico modelou animais e mesmo a forma humana (as diversas “Vênus”: de Lespugue, de Willendorf), mas a verdadeira escultura aparece pela primeira vez no Oriente Próximo. A escultura egípcia é norteada pelo sentido de perenidade, de eternidade: convencional e monótona, mostra todas as figuras dominadas pelo que se chamou de lei do frontalidade. Uma simetria absoluta rege essa escultura egípcia, de que emana uma calma e imperturbável monumentalidade. A escultura egípcia nunca é verdadeira tridimensional, sendo antes resultado da justaposição de quatro relevos, os quais formam um verdadeiro cubo.

Os baixos-relevos e as pequenas figuras mesopotâmicas bastante estilizada, são cheios de vitalidade. O escultor mesopotâmio, ao contrário do egípcio, dá grande realce ao detalhe naturalístico, acentuando músculos e membros num modo característico, acentuando músculos e membros, num modo característico, inconfundível.

Os povos do Egeu somente cultivaram a escultura de pequenas dimensões; os gregos, contudo, tiveram na escultura sua arte mais importante, e criaram dessa arte uma concepção que ainda hoje subsiste, na obra de artistas mais ou menos tradicionais. A história da escultura grega abrange três períodos: o arcaico, o helênico e o helenístico - período de formação, o primeiro de apogeu, o segundo, e de declínio, o último. Os etruscos trabalharam, de preferência em argila, dentro da tradição grega, assemelhando-se suas esculturas às regras do período arcaico. Energia e vitalidade são qualidades típicas da escultura etrusca, que influenciou, aliás, mais de um escultor contemporâneo, entre ele Marino Marini. Os romanos seguiram igualmente a tradição helênica, mas com suas esculturas-retrato criaram um gênero inconfundivelmente nacional dominado pelo detalhe naturalista. Com o advento do Cristianismo a escultura de imagens restringiu-se grandemente, pois a estátua veio a ser considerado um resquício do paganismo moribundo. O material favorito é então o marfim, no qual são feitas delicadas imagens sacras. A escultura começa a reviver em Bizâncio, ganha força no período românico e desenvolve-se notavelmente no gótico, A Renascença marca o retorno à cena da escultura clássica, de origem grega: o realismo passa a nortear a produção de escultores como Donatello, Verrocchio, Michelangelo.

Segue-se o período barroco, destacando-se Bernini, cuja arte é dominada pelo movimento e pela liberdade de concepção.

Rodin, Daumier, Medardo Rosso e outros sugerem novos caminhos e perspectivas. Menciona-se, finalmente, a grande escultura dos povos africanos e oceânicos, das civilizações americanas, da Índia, China e Japão.

Enciclopédia Barsa
Editor William Benton
Volume 5 páginas 411 á 414


“Vivemos graças ao caráter superficial de nosso intelecto, em uma ilusão perpétua. Para viver necessitamos da arte a cada momento, nossos olhos nos retêm formas, se nós mesmo educarmos gradualmente esse olho, veremos também reinar em nós uma força artística, uma força estética”. Nietzsche


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