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sábado, 7 de junho de 2008

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A ARTE DO INCONSCIENTE

Foi a liberdade defendida pelos modernistas que permitiu a descoberta do caráter artístico de uma série de diferentes manifestações, consagrando artistas de origem e formação diversas. Já falamos dos autodidatas e dos artistas ingênuos, agora vamos falar dos artistas doentes mentais, ou da chamada arte do inconsciente.
O desenvolvimento das terapias com doentes mentais, no século XX, levou muitos hospitais a desenvolverem terapias com atividades artísticas. Acreditava-se que se expressando através de imagens e cores os doentes mentais aliviariam suas tensões, além de permitirem as livres manifestações do seu inconsciente, auxiliando o diagnóstico médico. Eram as chamadas terapias ocupacionais. Aos poucos, percebeu-se que muitas das obras assim produzidas tinham qualidade estética, embora expressassem valores diferentes da produção artística regular ou tivessem sido produzidas sem a intenção de se fazer arte.
No Brasil, duas pessoas foram responsáveis pelo reconhecimento estético do trabalho de seus pacientes: Osório César, médico do Hospital Psiquiátrico pela Seção de Terapêutica Ocupacional do Centro Psiquiátrico D. Pedro II, no Rio de Janeiro. Através de exposições. Mostras, publicações e criação de museus, divulgaram essa produção artística evidenciando seu valor estético.
Um nome famoso no Brasil, e até no exterior, pela qualidade de seu trabalho, foi do artista plástico Arthur Bispo do Rosário que, internado em uma clínica para doentes mentais, conseguiu passar para objetos e vestes que produzia em seu quarto toda a sua visão peculiar do mundo. Bordando os rudes tecidos de que dispunha como interno, com os fios que ia retirando de seu uniforme, criou um universo de imagens. Finalmente essa produção oi descoberta e já percorreu o mundo. Uma das alas da Escola de Samba Viradouro, de Joãozinho Trinta, homenageou Arthur Bispo do Rosário no carnaval de 1997, cujo tema era a loucura genial de certos brasileiros.
Como se vê, a produção estética humana é muito mais rica do que podemos imaginar, catalogar e avaliar. São inúmeros os exemplos de artistas despretensiosos ou amadores, cujas obras acabam encantando o mundo e adquirindo a legitimidade própria da obra de arte. E, tanto a crítica especializada como os profissionais, empresários e curadores, sabedores dessa complexidade do fazer artístico, estão sempre procurando renovar critérios de avaliação artística, criando novas regras de seleção.
Ser um amador da arte parece condição própria do ser humano desde que ele tomou consciência dessa capacidade de entender e expressar o mundo de forma estética. Utilizar esses recursos artísticos como meio de expressão também se tornou parte da natureza humana.
A profissionalização ou não dessa atividade, seu reconhecimento e consagração. Entretanto, têm explicações históricas que dependem menos da qualidade da obra em si do que da institucionalização do fazer artístico, ela só se torna profissional quando reconhecida, avaliada e selecionada pelas instituições envolvidas – galerias, conservatórios, gravadoras, museus – e por profissionais reconhecidos – curadores, empresários, professores e críticos. Esse processo é que dá legitimidade à obra, tornando-a parte de um patrimônio coletivo e público e profissionalizando o autor. A arte do amador permanece num âmbito restrito, particular e descompromissado até eu algum descobridor de talentos a retire desse anonimato e a projete no campo artístico que lhe é próprio.


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