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domingo, 8 de junho de 2008

A IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO PARA O PÚBLICO

A IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO PARA O PÚBLICO

As formas de aprendizado artístico são importantes não só para o desenvolvimento pessoal do artista como para o próprio processo de renovação da arte. Assim os velhos modelos estéticos são substituídos por outros mais novos, adequados ao momento vivido.
Mas, se é necessário aprendizado para se tornar artista, para produzir uma arte integrada ao seu tempo, não é menos verdade que também o público, para participar desse processo, precisa ser adequadamente informado. É dessa maneira que ele desenvolve sua sensibilidade e poder estar em sintonia com a arte e os critérios de julgamento artístico.
O gosto por determinada forma de arte exige informação e até treinamento. Uma experiência realizada entre os membros de uma tribo africana revelou que as pessoas desse grupo, diante da primeira exibição de cinema a que tiveram acesso, não conseguiam entender as seqüências do filme. Acostumados a imagens fixas dos desenhos e dos baixos-relevos em barro, só conseguiam “ver” as seqüências uma a uma, e não formando um conjunto ou uma ação. A reação dessas pessoas decorria da falta de familiaridade, do desconhecimento, e não de uma incapacidade natural. Assim, temos que aprender a ver e ouvir, a entender as formas de representação, a decifrar as mensagens para podermos nos emocionar com elas. Todos nascemos dotados de sensibilidade e da capacidade de fruição estética, mas temos que ajusta-las à produção artística com a qual entramos em contato. Entender a arte é como compreender os lances de um jogo de futebol. Dá para torcer se não sabemos a posição dos times no campeonato nem as regras do jogo?
Erwin Panofsky, historiador da arte alemão, analisou profundamente a necessidade de informação para a adequada apreciação da arte. Diz ele que, dependendo das informações que temos sobre o artista, a obra e o estilo utilizado e fruição. Vamos imaginar, por exemplo, que uma pessoa esteja diante de uma pintura renascentista representando a última ceia de Cristo, seguramente a obra mais conhecida no Ocidente. Se o observador não conhecer essa passagem da Bíblia que relata a criação do sacramento da comunhão por Jesus Cristo, verá na pintura apenas a representação de um banquete, no qual alguns homens se reúnem em torno de um convidado especial. Se ele, entretanto, estiver informado sobre a história bíblica, saberá apreciar a maneira como o artista representou Jesus, uma divindade para os cristãos. Terá, então, uma emoção diferente e mais rica em significados. Agora, se essa mesma pessoa entender um pouco de história da arte, saberá ver, por exemplo, como o artista cuidou da perspectiva e da disposição das figuras em torno da mesa, de forma ordenada e regular.
É claro que mesmo a mais simples leitura da obra permite uma verdadeira apreciação estética, mas, a partir de informações mais completas, abre-se um enorme leque de possibilidades de contemplação. A cada nova informação, nossa sensibilidade se aprimora tornando-nos cada vez mais aptos a uma completa fruição estética.
O filme Minha querida dama (My fair lady), dirigido por George Cukor em 1964, conta a história de um professor que aposta com um amigo ser capaz de, com o ensino, transformar uma simples florista que vende flores na rua em uma dama, aceita nos mais rigorosos salões de Londres. E ele realmente transforma a moça inculta numa aristocrata, ensinando-lhe os gestos, a postura e especialmente o modo de falar da aristocracia. A “obra” do professor foi tão perfeita que ele se apaixona por ela. O filme tem um final feliz: o professor casa com a florista e mostra que o aprimoramento de nossa sensibilidade depende antes de mais nada de aprendizado adequado.


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